quinta-feira, 9 de maio de 2013

MOMENTOS ETERNOS

Como uma correnteza ladeira abaixo, segue o ser não ser. Assim como o avanço do dia e o declínio das horas. Lembro-me de uma época em que lançava barquinhos de papéis naquelas ondas impetuosas. Todos feitos de jornais, deslizando ao léu. Eu não pensava, nem me passava pela mente, jamais, que um dia, entre a terra e o céu, navegassem a tristeza e a alegria. Como aqueles navios tão frágeis se destroçavam antes do cais. O ancoradouro seria uma pequena praça abaixo da ladeira. Mas alguns se agarravam aos meios fios e se destroçavam. Também pelos meios ficaram quantos amigos e amigas. Parece brincadeira! Entre o arco e a lira de Artêmis. Entre o aparecer e o desaparecer simultâneos de coisas diferentes. Entre o nascente e o poente, entre o início da tarde e o fim da madrugada. Eram páginas transformadas em barcos. Enquanto corriam, as frases passavam com rapidez. Ninguém as liam. Ninguém as viam. Poucos dão total importância às crianças. O tempo é uma criança permanente. A correnteza das horas não é o tempo. É a nossa ilusão do seu formato. É a nossa mais pobre condição de vê-lo em cada estação: futuro, passado, presente. Há dias suavemente tristes. Vêm com sapatos de sedas nos pés. Trajam de cinzento o ar. Cobrem de nuvens o céu. Poucos sabem de uma luz brilhante sobre estes dias. Aparece de quando em vez. Um pedacinho do horizonte sorri. Um sorriso por trás da viuvez. Mas enquanto o barco desliza vale a pena brincar. É necessário construir outros barcos, pois a chuva se torna torrencial. Mas eles carregam uma mensagem. A vida continua. A morte é apenas uma passagem. Onde estávamos antes de nascer? Antes estávamos antes de brincar? Presos dentro da casa com medo da chuva? Só conhece o mundo e experimenta a vida, aqueles como aqueles barquinhos, se jogam na correnteza. Onde eu estava antes de meus pais se conhecerem? Onde os meus pais estavam antes de nascer? Esta pergunta não tem fim. Perguntar é viver. O amor pergunta em seu silêncio: “As coisas vão ficar só nisto?”. Pelo amor estamos todos aqui. Amor vestido de desejo. Amor forjado de hormônios salientes. Não importa quais caminhos ele tomou. O importante é estarmos aqui. Termos consciência de nossa transcendência. Termos consciência também de nossa fragilidade. Não somos tanto o quanto pensamos. Como somos frágeis! Necessitamos abaixar os faróis. Não levaremos nada deste mundo. Nem nossos diplomas. Mas muito dependerá de como nos portamos enquanto corríamos na velocidade destas águas. Tanto o menino de um lado. Tanto a extensão de seu leito ou os impedimentos em sua margem, estamos no mesmo rio. Cada segundo está por um fio!

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