quinta-feira, 18 de setembro de 2014

O RAIO QUE PASSOU DE RASPÃO

Eu tinha um olhar tão puro, tão sem maldade e tão seguro. Quando andava pela cidade e observava sua gente que descia e subia as ladeiras eu as via como brisas ou neblinas daquelas que vertem românticas sobre as curvas como uma benção tangente. Eu tinha um andar que não mitigava as pedras e nem sequer tocava o pó do caminho de tão leve e suspenso no ar, porque vivia no mundo como um anjo dançarino ao som de bandolins, sendo assim como caminham os poetas. Eu tinha uma forma de falar conhecedora do âmago e do sentido das palavras, emoldurada pela essência da linguagem dos salmistas e pela vidência e linhagem dos profetas. Eu tinha um plano para traçar minha existência desde o nascente e o poente, pois queria levantar-me com o sol beijando toda a natureza e queria dormir sob um manto de estrelas cintilando-me contos de fadas. Certa vez, um raio desceu sobre mim vindo com um trovão incessante e uma arrasadora tempestade sacudiu todo o meu ser, mas não me sucumbiu. Eu tinha também um para-raio como verdade! Eu tinha este potente artifício de proteção. Eu tinha em meu peito um girassol de verdade chamado poesia. Apesar de todas as avalanches de críticas eu a guardara comigo, sozinho, eu e ela fizemos um juramento no altar da beleza de que nunca iríamos nos separar, porque escrever foi o meu primeiro ofício!

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