Isto foi no mínimo, anelar, médio, indicador e polegar de muitos anos contados nos dedos, como no interior se conta quase tudo. Pedroca saiu da roça e colocou um boteco na vila.
Dezessete doses de um litro de cachaça, por mais multiplicados que fossem sobre o preço líquido da gostosa, não ia deixar ninguém rico. Pinga, já vem vem do verbo pingar. Pingar é igual goteira, a chuvona mesmo acontece lá fora.
Pois bem, lá fora era onde Pedrão queria estar. Lá no meio dos ricaços, dos compradores de gado e de café. A vontade do cara de ficar enricado, foi tão grande que ele resolveu convocar o bicho para fazer um trato com ele. Mas Pedrão pensouzinho assim: "Vou chamar o bicho diabo matuto, porque ele vai ser mais fácil de eu enrolar, depois que ficar rico!"
Nem terminou seu pensamentozinho, que devagarzinho bateram palmas debaixo de sua janela: "Oi de casa! Chega ôme, que tô aqui prá te prestá presteza!"
Pedrão torceu a taramela e entreabriu a banda da janela, para ver quem era.
Era ele mesmo! Era o diabo do mato! Botinão amarelo nos pés com lingueta desenhando um esse no calcanhar, calças listradas, camisa xadrez, dois dentes caninos de ouro maciço, chapeuzão de palha. Tem mais: um olhar, que pelo amor de Deus (é até bom lembrar de Deus nesta hora), parecia duas brasas vivas, de final de festa de São João. Final, porque no começo dela, o bicho não aparece.
"Fala logo Pedrão, o que ocê qué!" "Eu quero ficar milionário. Quero ficar rico de dar caganeira nesta povão todo!"
"Pois ocê vai ficá rico de doê, Pedrão. Mais daqui a vinti anu eu venho ti buscá!"
Era isto que Pedrão precisava. De tempo! E tempo minha gente, é pior do que água que passa debaixo da pinguela. Os ponteiros dos relógicos ficam quase doidos querendo acompanhar o tempo. Eles enferrujam, envelhecem, desaparecem e o tempo bate mais perna que mulher andadeira.
Pedrão ficou inchado de rico. Dezenove anos se passaram! A mulher dele, Rosinha, lembrou-lhe: "Lembra do trato, marido, que você fez com o diabo do mato? Pois é, só falta um ano e quero ver o que você vai arranjar!"
Pedrão partiu pra São Paulo. Procurou o melhor ivopitangui de lá e fez uma plástica para virar japonês. Ficou parecendo um lutador de sumô. A riqueza engordara Pedrão. Comia um frango assado todo dias.
No dia marcado, ele sentou-se na varanda de sua casa, vestido de um quimono amarelo e esperou o danado chegar. Foi tiro e queda. O bicho veio em ponto. Todo mundo já sabe que o diabo é escravo de suas diabruras.
"Olá, eu quero falá com o Pedrão!"
Pedrão levantou-se e começou o seu um sete um: "Oi, tú é ken? eu sou Nijito japonês e tô pra tú co mô tú pre ci sá OHAYÔ!" "Meu cabra, e tú quem é? Cadê Pedrão? Vim buscá ele, modi que deu tempu!"
"Eu sou Nijito japonês, dissi ti nu dissi? Eu mandê Pedrão rodá, eu vi vô com mu lhé de Pedrão a go rá!"
"Então seu cabra da peste. Tú mi passô pra trás. Tú dispachô meu devedô e ainda ficô com muié dele. Quem rouba muié dos ôtro vai pro infernu também!"
No meio matuto não existe diabo bobo e Pedrão sumiu transformado em japonês. A mulher do Pedroca, esta sim, conseguiu enganar o diabo. Mas um diabo da cidade. Eu acho que esta história vocês todos já conhecem. Mas história pornográfica não faz parte do meu estilo. Se não conhecem perguntem aos mais velhos, que eles contarão.
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