Como foi que a irmã de caridade segurou o Damião e soltou o Cosme, isto ninguém saberá, porém o resto vamos ver com o desenrolar da estória. Tá certo que a curva era perigosa. O movimento intenso, a chuva fina e que todos estavam a mil por hora. Mas como entender tudo aquilo?
Amontoados num canto da estrada: duas rodas de bicicleta sem o resto da mesma, o capô de um fiat, o banco lateral de uma moto, o resto de uma cadeira de primeira classe de circo, o pedaço de uma placa advertindo Devagar Escola, um carrinho de picolé (o vendedor estava do outro lado rezando o terço e se benzendo), um São Cosme quebrado sem o São Damião ao seu lado (a única coisa que rimava naquela situação).
O saldo de feridos era o seguinte: um rapaz apressado perguntava se alguém havia visto uma orelha por perto, ao que um outro respondeu: "vi um cachorro carregando a mesma!".
O outro acidentado era um senhor sem as duas pernas e que dava gargalhadas por não ter morrido ali no acidente... o vendedor de picolé se benze tanto que parece pai de santo no auge da incorporação... a irmã de caridade foi socorrida por uma beata... o dono do fiat todo arranhado gritava: "fui enganado agora é tarde!".
Ninguém entendia o que aconteceu. "Cadê as pernas do moço?" Um bêbado respondeu: "A cigana jogou no poço!".
"Cadê a orelha do motoqueiro?" "O padre jogou no galinheiro!". "Cadê o circo que perdeu a cadeira?" "Tá com o palhaço falando besteira!" "Onde foi parar o São Damião?" "Foi dar na sua mãe um pescoção!" "Tirem este bêbado daqui senão ele vai pra lista dos acidentados!"
"Eu não saio porque sou a única testemunha que viu e que sabe como foi o acidente!" Berrou o bêbado.
"Então explica pra nóis devoto do conhaque São João da Barra e da cachaça Santa Terezinha, como foi tudo isto?"
"O que vocês pensam que é roda de bicicleta, cadeirinha de circo e homem sem pernas, é um deficiente físico que vinha em sua cadeira de rodas pelo asfalto, em grande velocidade, fez a curva engavetando sobre o vendedor de picolé, ambos se embolaram e se arrastaram até o ponto de ônibus, atropelaram a irmã de caridade; em direção contrário vinha o fiat e a moto que se embaralharam, encapotaram, a placa de sinalização pendeu e cortou a orelha do motoqueiro... agora se vocês me perguntarem como foi que a irmã de caridade segurou o Damião e soltou o Cosme, isto eu não sei responder não!".
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