Sérgio levantou-se cedo. Abriu a taramela da porta, sentiu aquele arzinho gostoso das seis, vindo com uma cerração baixa. A grama se estendendo meio branquinha de geada nova. Um friozinho amenizado com o cantar dos passarinhos. A mulher já estava na cozinha perfumando a casa com o café na chaleira do fogão a lenha. Uma broa de fubá coberta com um pano de prato com bordados de vermelho enfeitava a mesa de madeira bruta.
Estava com pressa. Tomou o café correndo naquele dia, pois teria um serviço para fazer no meio de outros mil. Amolou a faquinha arredondada. Ele sempre cumpria este ritual quando ia castrar porcos. Passava-a centenas de vezes naquela pedra escura colhida no fundo do córrego. Pedra lambida por cascudo que serviu de abrigo para bagres e lambaris, não havia outra melhor para curtir o fio da faca. Bastava passar centenas de vezes de um lado e outro, para que ficasse no jeito. />
Foi ao chiqueiro trazer o primeiro, cujo nome já cheirava desconfiança: Teimoso. O resto da porcada resmungava com ciúmes de não ter sido escolhida. Não sabia o que esperava. Mas vejamos em que ponto caiu a desgraça daquele nefasto dia.
Amarrou os pés do danado. O porco rebolava igual peixe fora de água, enquanto ele gritava calma Teimoso! Calma Teimoso! De hoje em diante as porcas vão ficar calmas com você Teimoso!. A verdade da castração de porcos é para que eles engordassem mais. Ficavam bonito e recheados prontos para a venda imediata no mercado.
Para melhorar os seus movimentos, Sérgio tirou a calça comprida e colocou uma bermuda bem larga. Ganhara uma calça jeans que pertencera a um amigo agora morto. Presente da viúva que distribuiu seus pertences pela vizinhança. Voltou e Teimoso continuava inquieto. Segurou-o pelas orelhas, deu-lhe uma gravata, um vai e vem, um retorcido e foi preparando a faca.
Aí é que tudo aconteceu. Na hora em que ele abriu as pernas, suas coisas saíram meio pra fora da bermuda e Teimoso não perdeu tempo: "Rasq!". Numa bocada só levou-lhe os testículos!
A ida para o hospital, o tempo de recuperação (recuperação?) não cabe aqui contar. Só vou dizer o que se fala na cidade: "Em vez do Sérgio castrar o porco, foi o porco que castrou o Sérgio!".
Nenhum comentário:
Postar um comentário