Poeta, escritor, amante da música e da arte. Um ser humano muito simples em busca do significado profundo da vida, que é o amor, por onde a humanidade ganha sentido no exercício da fraternidade.
quinta-feira, 21 de maio de 2015
O tatu da sorte prometida
Pois é verdade sim minha gente, o Seu Bastião achou realmente um punhado de pedras preciosas arriscando um meio garimpo no seu riacho donde apenas pulavam alguns lambaris, traíras, bagres e cascudos imprudentes; se pescá-los foi atividade costumeira de suas enes gerações anteriores, ele foi buscar algo mais precioso; bom, os acontecimentos sucedidos logo após deixarão todos vocês bem impressionados demonstrando ser a vida uma caixa de pandora e ninguém pode acertar arriscando palpites, principalmente pelo seu caso amoroso, este será também esmiuçado dentre pouco.
Vocês bem sabem das verdades dos segredos, aqueles contados na orelha da mulher de forma bem baixinho tim tim por tim tim, jurando de dedos cruzados não serem revelados a ninguém; mas sogra não pode ser considerada ninguém em um mundo mitológico interiorano, assim como toda a sua família ou aqueles em torno dela, alastrando o caso tipo trepadeira de muro espalhada abrangendo um universo múltiplo e diferenciado de seres.
Pois bem meus prezados, foi justamente assim, de pé de orelha a pé de orelha o alastramento total do caso do Bastião ao encontrar uma considerável fortuna, dando a ser conhecida de um indivíduo demoníaco, um anjo mal para não falar o nome real da criatura bestálica, conhecendo esmiuçadamente o fato e outro da traição, ou melhor distraição, pois traindo ou distraindo não sabemos até onde podemos julgar duas criaturas, mas bem embasado nestes fatos foi de sua decisão bater à porta do até este momento afortunado para fazer-lhe uma barganha, naquela terra de sabedoria cigana.
Esta maléfica personalidade dos escombros do mundo chegou bem vestido, posto estava com seus alguns dentes de ouro, bem forrado chapéu prado, grandes botas, um cavalo tão arreado de trazer inveja a São Jorge, com uma definida proposta, “Olhe Tião, você pode escapar das minhas garras no inferno!”, sob dois esbugalhados olhos o sortudo proclama, “Como posso ir para o inferno, uma vez de ti não tenho dúvida alguma de sua pessoa?”; pois era disto mesmo, desta certeza advinda, aquela cruel criatura necessitava para dar seu bote final como jararaca enrolada em si mesma ocultando a extensão do seu bote, “Você vai morrer e ir para minhas garras com certeza. Você é amante da mulher do compadre e só tem uma forma de você se livrar de mim. Você me entrega o embrulho das pedras preciosas achadas e vamos depositar tudo no banco obscuro do inferno!”
“Mas meu prezado, (neste momento fulminante melhor tratar logo de fundar um pacto de amizade, pois o bicho tava pegando), onde fica este curioso banco, sendo do meu conhecer outros estabelecimentos bancários!”
“Fica na boca do formigueiro, Tião! Nós vamos depositar o lenço amarrado com as pedras preciosas na boca do formigueiro! Ou se preferir, morrerá e queimará no inferno pelo resto de sua vida!”
Tendo ou não tendo sobra de vida no mundo infernal, acometido por todos os sintomas internos das maledicências do Padre Genival, Tião propôs logo partir para o rumo da empreitada.
A duas léguas dali chegaram os dois, um no seu belo e reluzente alazão e o outro em sua égua cambaleante e velha, mas chegaram a ponto de ver o sol estalar sobre a boca escancarada do buraco de formiga, por onde o ser de nome indizível depositou no fundo o lenço milionário e salvador de uma alma ofegante já em sua consciência com os pés chamuscados à beira da porta do inferno; enquanto aquele ser horrível sentiu suas mãos arranharem em uns dentes crendo por sua experiência ser realmente a arcada da boca de um tatu morto de fome ou velhice.
Como de trato marcado e com o diabo o troço deve ser cumprido em retidão, acompanhou Tião até seu casebre pronunciando várias vezes ter-se livrado para a eternidade das caloríficas chamas infernais para onde estava prestes a ser conduzido.
Como todo velhaco voltou a mil, para sacar do lugar sua fortuna quase enterrada, ou melhor, totalmente enterrada, pois ao enfiar a mão no buraco não havia sinal de arcada dentária com o embrulho dentro e visto sua experiência matuta notou um rastro de retorno às profundezas do buraco, denotando com absoluta certeza o recuo infinito de um tatu com sua merenda na boca.
O mais depressa possível tratou de arrumar uma pedra de bom tamanho para cobrir a entrada do buraco e vistoriar o locar para ver se havia mais buracos por onde o engole tesouros poderia sair, coisa de levar a tarde e a noite inteira, passando inclusive em lamaçal e de nada encontrando deu-se por certo ser a única porta de entrada agora do seu próprio inferno, pela fortuna escapada na boca de um tatu.
Precisava urgentemente de um ajudante e de ferramentas como enxadões, pás e picaretas para cavar profundamente até onde pudesse encontrar o carcaçudo ladrão de pedras preciosas; mesmo todo enlameado como um porco não foi difícil arrumar um daqueles braçais acostumados aos tostões das épocas de colheitas, ainda mais diante da promessa de ganhar o bastante a comprar um burro e uma carroça para fazer fretes e ganhar bastante dinheiro.
Começaram a cavar com o sol levantando e arrancando reflexos das ferramentas no ar, a terra era fofa e fácil de remover e o buraco ia se aprofundando cada vez mais de não dar fundo e afunilar em um labirinto infinito por onde se introduziram cavando desesperadamente um pela riqueza fácil e imediata e o outro pela possibilidade de iniciar um bom negócio naquele fim de mundo recheado de escravidão por toda parte.
Quanto mais cavavam, mais o círculo do buraco de se apresentava em frente e já passava bem mais do meio da tarde, acabada a comida de pão com carne de sol e duas moringuinhas de água, quando aconteceu um estrondo enorme caindo toda a terra, todo o barranco, tudo sobre eles, soterrando-os para sempre naquele distante rincão sem nenhuma testemunha a não ser o vento outonil e o sol se pondo sem ruído.
Desta forma três acontecimentos interessantes aconteceram naquela região, sendo a primeira delas é de que nem sempre só quem nasce para tatu morre cavando, para quem nasce para porco também morre cavando, assim como quem com porco anda em vez de comer farelo vai comer terra derramada e sendo mais cuidadoso podemos afirmar ter Tião perdido uma fortuna e ganhado realmente a vida, pois o compadre não sabia certamente quem era o traçador de sua mulher, mas afirmou matar os dois no dia da fuga, coisa muito comum por aquele lugar onde havia ladrão de mulher. Tião desfez a mala e agradeceu a Deus, pois sem fortuna aquela mulher não o acompanharia a tão arriscada aventura.
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