Poeta, escritor, amante da música e da arte. Um ser humano muito simples em busca do significado profundo da vida, que é o amor, por onde a humanidade ganha sentido no exercício da fraternidade.
sábado, 31 de março de 2018
A despedida e o encontro fatal
Era tão grande nossa imensa amizade,
que viver longe dela somente um minuto
era o mesmo que suportar o golpe de um surto.
Meu corpo vazio ficou como uma triste cidade
onde não há taças de cristais nem vinho puro,
como no final de um pavio se apaga a chama,
ou no fim da festa se vão tristonhos os comensais.
Da mesma forma que se ausenta a sentinela
de cada sua torre erguida com sonhos e esmero,
mas que pálida se definhou por meu desespero
em dez anos de ausência, enquanto por meu espanto
vivi o branco de sua distante ausência e não sabia
encontrar sua presença nas ruas por onde andava,
nos bares por onde sorvia a noturna madrugada,
a cada janela que abria seu rosto não me amparava,
em cada porta que batia seu vulto não me esperava,
em cada lugar que ia, somente a presença do nada!
E agora faz dez anos, e dez anos são dez vezes
mais que todos os meus desenganos, que todos os
lenços que pendurei no varal dos meus prantos!
Anos inteiros que devoraram vorazes seus meses!
E agora me pergunto o que faço, o que me encanto
neste solene encontro, onde não consigo sequer
falar um tanto que seja do tamanho da saudade,
desde o dia daquela inesperada e triste partida
da minha mente como Penélope seu vulto de mulher!
Não tenho outra coisa a fazer que derramar minha vida
como um menino, por cada rua, esquina e praça da cidade
e talvez assim com a alma enlouquecida, poderei chorar
dizendo que não tenho palavras para o repentino encontro,
quando bobo de mim caio sob seu olhar, meio tolo e tonto!
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