sexta-feira, 3 de maio de 2013

UM POSSÍVEL ENCONTRO COM ALICE

Quando Clóvis construiu sua casa, todos os vizinhos comentaram que ele era megalomaníaco. Inicialmente adquiriu um terreno com mil metros quadrados. Área correspondente a quatro lotes daquele bairro. Começaram a chegar os caminhões de materiais de construção. A conversa rolava por todos os lados. É uma igreja! Não! É um clube. Deve ser uma agência bancária! Acredito ser um posto de saúde! Que nada! Vai ser uma escola! Enquanto afirmam uma coisa ou outra, a mansão foi sendo erguida e tomando forma de residência. Mania de grandeza? Podemos até considerar uma boa dose dela, não sendo a razão final deste relato. Somente a sala possuía cem metros quadrados! Toda rodeada de vidros! De dar água na boca a Luis XV. Este era o recanto preferido de Clóvis. Os vidros funcionavam como espelhos e refletiam todos os movimentos na sala. Inclusive os móveis e os preâmbulos de luz e sombra. Clóvis era muito na dele. Entrava e saía de sua enorme garagem com os vidros fechados. Desta forma nem mesmo bom dia necessitava distribuir ao léu. No bairro todos se conheciam e se diziam populares. Ninguém sabia nada daquele estranho e inusitado vizinho. Percebiam seu poder econômico. Também quem pudera! Somente um tonto não captaria esta sua posição social. Uma mulher e um filho? Ninguém os via! Passavam também em seus carros blindados ao mundo externo. Uma noite Clóvis sentou-se em sua confortável sala. Deu um grito de sacudir a casa. O berro ecoou somente por dentro. Ele não aparecia mais nas vidraças, como antes. Levantou-se, gesticulou e nada! Ensaiou uma dança vampiresca. Confirmou o adjetivo de seus movimentos na ausência de seu vulto nos espelhos. Tentou imitar um enorme sorriso. Ele desaparecera completamente entre as molduras douradas da janela. Não era possível tamanho acontecimento. Logo com ele? Ele o manda-chuva? Ele aos quais todos obedeciam lá na empresa como bonecos e manequins? Ele cujos ouvidos só escutavam: Tudo bem! Sim senhor! Ele que moldava as pessoas à sua forma de ser. Ai daqueles que não se enquadrassem em seus objetivos! Ele gabava-se com o peito estufado: Eu não tenho funcionários. Tenho sósias! Porém, seus espelhos só conseguiam refletir o seu narcisismo. Quando este foi além dos espelhos, ultrapassou todos os seus limites. Estes não duplicaram mais a sua imagem. Fique atenta Alice! O mundo além dos espelhos tem também suas assombrações!

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