
Nas cidades de pedras os homens
viviam truncados, em seus peitos
arfantes tropegavam suspiros em
morfemas trancados por guardas
reinóis em algemas trancafiados
e quando saíam às ruas não iam
de braços dados a sóis nem a luas,
pois as ruas eram de pedras e seus
passos pesados carimbavam nas
suas rígidas arestas as chagas dos
seus fardos e seus vultos desalinhados
como párvulos e sombrios seres sem alma!
Um dia, com sete pancadas magistrais
bateram no grande portão de pedra
da cidade de pedra dos homens de coração
de pedra e quando o abriram com um sorriso
de pedra, viram-se diante de um ser
com uma face macia de lã e com um gesto
de amor no ar, como um bisturi rasgando
as vestes de pedra daquela manhã e a vestindo
com uma capa de organdi, que as poucos
foi-se expandindo e a cada pedra abrandando,
mudou em cada retina a posição de cada
astrolábio e latejando perfumes de cinamomos
e cássias por cada viela e esquina e retirando a
venda de mortalha de seus olhos, tornou-os
tão leves como meteoros e plumas, que já não
andavam e sim sobrevoavam sobre dunas macias,
como se entre videiras se põe a colher uvas
e entre macieiras se põe a colher pomos!
Dizem por lá que se venderam a Cristo por
trinta moedas, somente o amor, o grande amor
é capaz de mudar os corações de pedras!
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