sábado, 30 de novembro de 2013

O HOMEM QUE OLHAVA ATRAVÉS DAS JANELAS

Todo o dia ele olhava para dentro da janela. Enorme, com suas bandeiras abertas, não era necessário dobrar sobre sua soleira para espiar o que se passava dentro de casa. Sempre o mesmo menino arteiro. Desta vez ele brinca com um retrós de linha e o amarra no rabo do gato. Apanha uma bombinha de vinte e estoura. O bichano dá um salto e passa sobre a janela onde ele está debruçado observando aquela cena. “Menino burro! Você não sabe o que faz! Você é maluco! Puxou seu avô aquele irresponsável!” No outro dia ele se curva de novo sobre a mesma janela. Observa o menino outra vez brincando com o mesmo retrós. O gato continua no canto esperando o resto do espetáculo. Amarra outra vez a linha no rabo do animal. Vai até a cozinha, apanha uma caixa de fósforos. Rapidamente risca a pólvora da bombinha de vinte e mais uma vez o gato salta sobre o vão da janela aberta. De novo a mesma fala. Um sábado chuvoso, ele foi caminhando pelos beirais das casas e parou diante de uma outra janela. A mesma estava fechada. Protegida contra a intempérie do lado de fora. Olhou seu vulto na mesma. Observou seu semblante triste e apático. Mirou seu corpo magro e doentio. Não sabia para onde ia, pois não tinha cabeça para nada. Não havia o que fazer, pois também não se aperfeiçoara em coisa alguma. Lembrou-se que não tomara o psicotrópico naquela manhã. Vivia ao léu, sem responsabilidade com nada. Não existiam janelas que lhe abrissem para a felicidade. Nem aquelas ali externas que demonstravam com todos os sentidos que as palavras têm poder. Nem aquelas que se abrem para o interior de sua alma.

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