sexta-feira, 29 de novembro de 2013

SHRI MATAJI NIRMALA DEVI (SAHAJA YOGA), em sua memória

Assistindo a um vídeo de Shri Mataji Nirmala Devi, Fundadora da Sahaja Yoga sobressaíram-me grandes intuições na mente. A primeira delas cuida das relações com o tempo. As questões de passado e futuro e sobretudo aquelas do presente. Ora, o passado já passou e até aqui não há nada de sobrenatural ou interessante. Mas prendo-me à consideração que o passado deixa lembranças. Recordações que são sulcos permanentes. Interiormente, somos como um móvel antigo em cujas ranhuras superficiais demonstramos a passagem do tempo. Mas como lidar com isto? Poderemos borrar o passado? Não, não temos como apagá-lo. Olvidá-lo seria como perder a memória. Perder este atributo da mente em plena consciência, seria o mesmo que abandonarmos nossa sombra sob a luz do dia. Apagar o passado não nos é possível. O grande lance está em compreendê-lo. A compreensão pode modificar o passado. Transformando nossa visão do passado, nos aliviamos de suas cargas negativas. Isto é uma questão muito fácil de resolver. Somos hoje o que não fomos quando cometemos erros. Os outros também não são hoje o que foram. As pessoas mudam. Os ambientes se transformam. As situações se transmutam. Nem nós, nem os outros, nem as condições são mais as mesmas. Esta é uma mirada de perdão que resgata todos os acontecimentos vividos. Somos nós mesmos com a nossa consciência que devemos procurar esta tão trivial solução das mágoas, dos ressentimentos e dos aborrecimentos passados. Devemos estar na pró(cura), abertos como a própria sintaxe desta palavra ou deste verbo. E quanto ao futuro? Como a Sra.Shri Mataji Nirmala Devi proclama ele não existe, porque é uma invenção de nosso pensamento. Dentre todas as grandezas advindas da meditação Sahaja Yoga está aquela em que podemos mergulhar no presente. Por estarmos flutuando entre lembranças passadas e sonhos ilusórios de momentos posteriores, perdemos o sabor da vida que está palpitando intermitentemente a cada segundo, como palpita nosso coração. A melhor atitude para resgatarmos o futuro é viver com plenitude este presente. Este é o olhar de esperança que resgata o futuro. Vivemos na sociedade da pressa. Todos estão muito apressados. A pizza é pré-cozida. O macarrão é instantâneo. O relógio não tem mais ponteiros. Há muitos anos ele é eletrônico. Se dissermos que estamos on line, na realidade estamos apertando teclas por onde saltamos sobre nós mesmos, os demais, a coletividade, a sociedade e sobre o presente. Quando reclamamos que estamos off line, queremos proclamar que estamos fora da linha ou fora do ar. O que na realidade é que estamos ansiosos demais, em uma situação similar à condição on line. A ansiedade é nosso estado consequente desta pressa ininterrupta. A ansiedade é nossa falta de habilidade de convivermos com o momento presente. Em decorrência vem a depressão. Ela nos achata. Nos afunda na poltrona do dia a dia. Nos lança cada vez mais para dentro de nós mesmos. A depressão é como uma seringa que nos injeta para dentro do pacote da tristeza e nos embrulha em um manto de angústia existencial. A depressão é uma falta de habilidade para lidarmos com o espaço. Enquanto a ansiedade nos desqualifica para vivermos com o tempo, consequentemente a depressão nos diminui para trabalharmos com o espaço. Ao ansioso e depressivo falta-lhe o tempo e o espaço. Complicado, não? Pois são eles as vias principais que vivemos e através das quais percebemos o mundo. É gravíssimo pois afeta o ser em todas as suas dimensões. A Sahaja Yoga ensina com sua técnica a trabalhar estes dois viés mais importantes da vida. Pois são eles a margem de ouro que conduz a existência. Eles são o ponto áureo através do qual devemos traçar o nosso edifício interior. Certamente que ela não se prende somente a estes dois polos, mas a perfeita consciência deles já conduz o indivíduo a uma nova condição de ser. Pelo menos ele pode começar a descobrir seu próprio mestre interior e sua condição maior de espírito. Mas ainda ficou sem resposta uma pergunta? Como estar atento ao presente? Ora, pela simples atenção ao momento que passa não conseguiremos captá-lo. O segundo que observamos não nos será possível apreendê-lo plenamente. Nem sequer as suas frações subdivididas. A impressão que nossa mente terá é de algo que está passando indefinidamente, pois a cada fração de segundo, vem outra em seguida e logo após outra. Não é possível viver o presente com uma atenção objetiva e fixa neste rumo tomado. A imagem mais simples que veio em minha mente é a de um surfista. Observem um surfista em todas as suas atividades sobre as ondas do oceano. Ele se equilibra maravilhosamente sob sua prancha enquanto todas as ondas se movimentam sobre elas. Mesmo aquelas mais vultosas e volumosas. As ondas vêm em crispas umas após as outras, enquanto o surfista se diverte sobre elas. Outro exemplo está no pianista. Mirem um pianista hábil e profundo conhecedor de sua técnica. Ele não desliza somente seus dedos sobre o teclado. Ele desliza seu próprio espírito. Ele não se prende em tecla ou parte alguma do seu teclado. Ele mergulha completamente na música enquanto debulha as mais belas canções. Assim como o surfista e o pianista deve ser o homem que vive plenamente o presente, compreendendo e perdoando o passado e resgatando com sua atitude diária digna e responsável um novo reino de esperança. O aspecto transcendente da meditação Sahaja Yoga consiste na concentração final no chakra superior que suspende imediatamente qualquer movimento do pensamento. Com esta prática e esta ascética será possível a subida da kundalini que é a energia divina à disposição de todos os seres humanos. Esta iluminação, sem perder o controle da realidade, corresponderia a viver o nirvana. Seria uma forma de não nos perdermos nos laços ilusórios do tempo e do espaço que não passam de condições de cognoscibilidade do ser humano, mas cujos grilhões impedem o alcance da percepção espiritual do todo. Sejam pacientes consigo mesmos. Não se desesperem se tropeçarem mesmo enquanto caminhem. Não é possível amar ao mundo e às pessoas se não amarem a si mesmos. Abracem-se e aceitem-se à medida que caminham. O caminho não é largo, nem estreito. Não é curto nem é longo. O caminho varia em cada um de nós. O caminho é o caminho de nós mesmos.

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