Poeta, escritor, amante da música e da arte. Um ser humano muito simples em busca do significado profundo da vida, que é o amor, por onde a humanidade ganha sentido no exercício da fraternidade.
quarta-feira, 27 de novembro de 2013
Muito mais do que bela
Antes da meiga voz no celular, estava o poeta encantado com a chuva que caia como uma sinfonia de pingos orquestrais brincando com uma miríade de sons. Deslizavam-se pelas paredes ou encontravam-se saltitando sobre as folhas dos arvoredos como os cordeirinhos do salmista.
Outros pululavam sobre os tetos dos carros e se transformavam em dezenas de gotículas dançando no ar. Alguns se intercalavam entre os espelhos das águas sobre o pátio em uma cena também lindíssima, digna do pincel de um Ticiano.
Neste momento o telefone toca. Do outro lado uma voz vestida de seda da mais pura e fina agradece-lhe suavemente a descoberta maravilhosa que fizera acerca dela.
Esta semana escrevi neste blog a incrível aventura da descoberta do pássaro cantor da comunicação. Por si só, isto já contem um grande significado. Eu havia prometido encontrá-lo a esta alma simples e afetuosa. Simples devido à roupagem interior, não demonstrando nem esnobando o poder do seu conhecimento e do seu encanto.
Encontrei-o na comunicação. Então a dona deste pássaro veio agradecer-me. Estava feliz por ter assistido não somente uma vez, mas dezenas de vezes a sua entrevista em um vídeo. Simplesmente estava satisfeita por minha percepção na sustentabilidade da mensagem.
Mas não foi simplesmente o encontro do pássaro cantor que acalentou meu entusiasmo. Foi mais além e para explicar tal fenômeno seria necessário trabalhar com uma imagem parabólica resgatando a forma de expressar de nossos antigos ancestrais.
Perguntaria de início se o por do sol é somente belo em si mesmo. Por ele mesmo já vale a pena admirá-lo, mas ele inserido no contexto vai bem mais longe de uma beleza imediata.
Ele é belo não só porque o cair da tarde é romântico e poético. Não só porque neste momento podemos ter com mais acentuação um encontro com a divindade. Mas há uma mistura infinita de cores e um contraste com o horizonte infinito, o céu entardecendo, os pássaros buscando seus ninhos.
Ainda vai mais longe o pensamento. Aquele por do sol também poderá ser o nascer do sol para outro. Assim como infinitos sóis no quadrante de cada dia neste planeta.
Justamente neste jogo de ser e não ser, onde cabe a minha maior admiração. De um lado ser uma figura cinematográfica, daquelas cujo batom vermelho transcende todos os sonhos. Daquelas cuja expressão no olhar resgata em nós todos os nossos pecados.
Daquelas que como disse acima, ornamentam com pura seda do oriente suas palavras singelas. E muito mais do que isto. Daquelas que da primeira vez nos chamam a atenção pela simplicidade da beleza e pela humildade de coração.
Então não é só o vídeo. É uma questão muito maior que envolve um sentimento que se abre como um leque em dia de verão para refrescar a alma de um poeta.
A impressão que fica é a soma de todas as percepções que se originam em um antes já fantástico em sua pujança. Um antes onde já se denotava um toque mágico de olhar, de batom, de humildade, bondade, inteligência e harmonia. Um antes que são eternos depois.
Um rio pode correr entre duas margens. Mas entre duas margens de um rio pode passar muitas outras coisas. Pode correr pelo seu leito o céu azul com uma revoada de pássaros. Pode regressar para sua nascente todas as sombras da paisagem em sua volta. Torna-se importante estar atento a este milagre que veio de um momento anterior e instantâneo e que se sobressai em um continuum instante.
Estas imagens estão também sempre de regresso ao ancoradouro do primeiro instante. Talvez tenha sido ele o movimento correspondente à curva do arco que atira a flecha do encantamento.
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