sábado, 7 de dezembro de 2013

A fronteira do monólogo

Qual era o maior problema de Paulo? As pessoas não lhe davam a menor atenção. Ninguém lhe ofertava a mínima! Tentava se comunicar com todo mundo, mas não era notado. Não lhe percebiam. Começou a ficar ansioso. Quando via uma roda de amigos e se aproximava e perguntava alguma coisa, não encontrava nenhuma resposta advinda deles. Sentiu-se desaparecido completamente. Uma ansiedade começou a tomar conta do seu espírito. Quanto mais ela crescia, mais desesperadamente ele tentava comunicar-se e acabava-se frustrado. Chegou mesmo a pensar que havia morrido. Imaginou que não estava mais no mundo real. Deveria ter falecido de repente e poderia estar com a sensação pós morte de que ainda vivia no mesmo meio de quando estava vivo. Então decidiu retirar-se de toda a realidade. Refugiou-se no último quarto de sua casa. Ela por si mesma já refletia abandono e solidão. Muito antiga, escondida no meio de um pomar, bem retirada da rua. Mais do que nunca ele desejava conversar alegremente com os amigos, pois já morava solitariamente. Como não houve uma forma de realizar esta sua vontade, não teve outra saída. Trancou-se naquele último quarto, aquele em que o tom da solidão atingia seu último grau. Mas o que realmente aconteceu com Paulo? Teria ele morrido subitamente? Não! Não foi isto o que aconteceu. O que houve é o que está havendo diariamente. Falta de diálogo! Ninguém dialoga mais. Está todo mundo querendo falar e falar e não escuta o outro. As pessoas se sentam nas mesas dos bares para olhar um para a cara do outro e iniciar o seu monólogo permanente. Todos querem informar tudo acerca de si. Notamos esta atitude nas primeiras horas das segundas feiras quando voltamos à nossas atividades habituais. Cada um vai chegando antes de dar bom dia a todos! E assim começam a falar tudo o que fizeram no final da semana. Se saíram ou não, onde foram, o que fizeram quando estavam em casa. Há quem chegue ao cúmulo de revelar até mesmo seus mais íntimos relacionamentos! Deus nos deus uma boca e duas orelhas, mas não damos ao próximo um minuto de atenção. Paulo não morreu. A sociedade é que morreu para ele. Um dia ele abriu sua janela de frente para uma mangueira quando escutou um canto: Bem te vi! Bem te vi! Ele respondeu: Eu também te vi! A partir daí começou a conversar com toda a natureza. Dialogava com os pássaros, as flores, as plantas, a chuva, o sol. O homem antes da sociedade é um ser de comunicação. Portanto, viver em uma sociedade por mais organizada e avançada que seja, se lhe faltar comunicação, ele não conseguirá sobreviver. Até onde sobreviverá a nossa sociedade? Se vocês quiserem se comunicar comigo, me respondam em mente e intenção. Mas vamos fazer um trato? Hoje mesmo sairemos pelas ruas e ouviremos atentamente ao nosso interlocutor. Também abriremos nossos corações para ouvir os pássaros, as flores, os rios, os montes, os campos e saberemos que mesmo nas mais duras pedras, o Espírito do Altíssimo palpita dentro delas!

Nenhum comentário:

Postar um comentário