domingo, 8 de dezembro de 2013

A justa causa da sedução

Eduardo era pateta e daí! Ninguém tem nada com isto. Cada um nasce conforme sopra o vento. Não prestava atenção nas coisas e daí! Cada coisa tem seus olhos nelas colocados conforme mereçam. Quando jovem mandaram-no procurar uma escada para pintar roda pés e ele foi batendo de porta em porta e porta em porta batendo em sua cara. Na escola por dezenas de vezes a mando de alguns espertalhões foi à esquina ver se ele estava lá. Quando chegava à esquina o encontrava e abraçava a si mesmo. Mas todo pé torto se depara com um chinelo estragado para calçar. Desta forma se casou e muito bem. Chinelo encaixado no pé como manda o figurino. Por incrível que pareça arranjou um trabalho em um banco, com excelente resultado profissional. Isto até antes a estória do perfume que vou relatando em seguida. Chegava ao banco bem antes do horário. Já aparecia pronto com gravata, roupa engomada e sapato bem lustrado. Sem dizer o cabelo à moda Elvis Presley em fim de carreira. Nunca deu um troco errado no caixa. Deveria ter algum traço de altismo. Para conhecimento de vocês ele sabia a placa de todos os carros da região com nome do dono, ano de fabricação, embora não soubesse dirigir. Todos os clientes gostavam dele. Ele vivia risonho. Além do mais, ria sem parar de qualquer piada. Inclusive daquelas que não tinham graça alguma. Mas era necessário primeiro que as pessoas dissessem para ele: “Vou contar uma piada agora!”. Então ele começava logo a rir. Caso contrário pudesse ter a graça que fosse, ele não demonstrava nenhum movimento com os lábios de se abrir em um sorriso. Isto também era motivo para muito riso. As pessoas pensavam que ele era cômico. Entre a graça de um, a falta de graça com a graça de todos, conseguiu fazer uma amizade imensa. Deu-se bem no emprego. Só não lhe deram o cargo de gerência de seguros, porque ele dizia estar muito seguro como caixa e não sabia onde estava esta gerência. Ninguém entendia nada e achava isto muito engraçado também. Um belo dia, a gerência geral chamou-o e apresentou-lhe a carta de demissão com justa causa!!! Qual era a causa? Bebedeira em serviço!!! Como provar? Estava na cara, ali mesmo na sua camisa!!! A bebida catingava a camisa toda e não havia quem não percebesse!!! O gerente apontou-lhe o dedo sobre as manchas na camisa, em presença do subgerente, do tesoureiro e de mais duas testemunhas, clientes espetaculares da agência, um proprietário de uma agência de carros e outro dono de uma cadeia de supermercados. Eduardo exclamou: “Meu gerente, isto aqui não é bebida não!!! É um perfume francês que minha esposa comprou para mim em São Paulo, na Galeria Pajé!” “Perfume? Então você vai ter que mostrar!!!” “É só eu telefonar lá para casa e pedir a minha esposa para trazer o vidro aqui, meu caro!” Em meia hora a mulher chegou com o vidro na mão e um belo discurso: “Meus amigos, fico feliz pelos senhores perceberem a minha inteligência! É só encomendar que trago para todos vocês e para quantos quiserem! O perfume estava barato demais. Perfume francês puríssimo!!! Olhem o tamanho do vidro e a marca original: Cointreau – triple sec, produzido em Saint – Barthélemy d’Anjou – Angers – France!”

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