quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

A mulher que detestava vidraças

Quem visse Marlene andando pelas ruas não suspeitaria do que se passava dentro de sua mente. Se pudesse, ela carregaria na bolsa centenas de pedras para atirar em todas as vidraças possíveis. Uma vez sonhou que andava no shopping. Sua enorme bolsa produzia pedras infinitamente. Quanto mais caminhava por suas galerias vazias, mais pedras atirava e destruía todas as vidraças pela sua frente. Quando olhava para trás, os cacos voltavam todos para seus lugares anteriores reconstruindo as vidraças. O que Marlene não sabia deste sonho? As vidraças são os mais terríveis espelhos para quem quer se esconder de uma sombra interior insuportável. Os espelhos também incomodam a estas pessoas. Mas não são comuns em todos os lugares. Geralmente ficam escondidos nos banheiros das casas ou atrás das portas dos guarda roupas. Quem os inventou sabia perfeitamente da força poderosa por trás deles. As vidraças não há como evitá-las. Espalham-se por toda a parte. São espelhos embutidos no próprio mundo exterior. As vidraças devolvem a pessoa justamente como ela é. Com os mesmos brincos, os mesmos colares, os mesmos vestidos, os mesmos sapatos, a mesma aparência. Além disto ela nos obriga a nos olharmos de uma maneira mais bela. Elas nos chamam a uma perfeição. Elas nos incitam a mantermos em uma posição mais atraente. Porém, tudo complica quando elas nos mostram da mesma forma que lhes enviamos nossas imagens. As vidraças também refletem o interior dos ambientes. Esta reflexão pode se reduzir além do ambiente. Pode ir ao infinito. Levar ao passado. Conduzir a um tempo não tanto agradável para algumas pessoas. As vidraças apresentam as pessoas invertidamente. O direito assume o lugar do esquerdo, pois elas têm a mesma função dos espelhos. Para muitas pessoas elas podem resgatar o que está bem atrás, bem distante e colocar muito perto, diante delas. Quando as pessoas possuem resistências a mudanças ou dificuldades em compreender o passado, estes movimentos incomodam bastante. Por este motivo e por outro especial, Marlene não suporta vidraças. No seu sonho com o shopping vazio, ela demonstra bem nitidamente que também não suporta as pessoas. Marlene é narcisista. Quer ver-se a si mesma. Mas é um narcisista onipotente. Quer ver-se a si mesmo, sem necessidade de colocar-se frente a frente consigo mesmo. Sem suportar o regresso de sua própria imagem. Sem estar de confronto com o passado. Sem possibilidades algumas de inversões e mudanças. Marlene além de um amplo tratamento psicanalítico necessita urgentemente de compreender um argumento fundamental: Onipotente, oniconsciente e onipresente só existe um ser: DEUS!

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