sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

O HOMEM MELANCIA

O supermercado estava lotado. Todas as galerias movimentadas com carrinhos abarrotados. As pessoas demonstravam muita pressa. Medo da tempestade. Medo antigo e arcaico, desde os remotos tempos em que o homem não conhecia cientificamente os fenômenos da natureza. Somente Seu Tinoco aparentava calmo. Paciência de Jó. Para acrescentar aquela repetida frasesinha: “Seja o que Deus quiser!”. Está no standard de frutas e segura a meia banda de uma melancia. Passa um homem moreno e forte com óculos de aros grossos e diz: “Pode levar que ela tem como ficar boa!”. “A minha preocupação é se está doce ou não! Dizem que quando a melancia fica meio brilhosa igual a vidro, é porque está doce!”. Respondeu Seu Tinoco. “Eu não me preocupo com isto! A minha mulher sempre diz: se a melancia não estiver doce, o Ulisses dá um jeito nela!”. “Mas se ela não estiver doce, não tem jeito!”. “Não tem? Eu coloco açúcar nela! A minha mulher não sabe que eu faço isto! Ela pensa que sou mágico!”. “Mas assim, tudo dá certo! Eu apanho um punhado de sal, coloco açúcar nele e faço doce de sal! Ainda mando para você e sua mulher experimentar!”. “Meu querido, você vai chegar atrasado lá em casa! Eu faço doce de sal há muitos anos. Todos os vizinhos adoram. Só que não falo para eles sobre os ingredientes. Você sabe como as pessoas são! Se a gente disser perde a graça. Além do mais coloca uma preocupação na cabeça deles e pronto. Acaba a brincadeira! Estou inclusive com a vontade de registrar patente deste doce. É um doce fácil de fazer, uma vez que só leva dois produtos muito comuns nos supermercados: o sal e o açúcar!”. “Daqui a pouco o senhor vai me dizer que já fez doce de pimenta malagueta!”. “Claro que já fiz e fica muito bom, uma beleza!”. “O senhor está brincando comigo! Deve arder demais!”. “Depende da quantidade de pimenta que a gente coloca! Eu coloco apenas uma pimenta para meio quilo de açúcar e fica excelente! Os vizinhos também adoraram. Eu não digo para ninguém qual é o meu segredo. Depois que patentear posso falar à vontade. Por enquanto não. O meu psiquiatra me aconselhou a parar de fazer estes doces por enquanto. Dar um tempo. Mas estou fazendo escondido dele!”. “Então ele sabe que você faz estes doces?”. “Claro que sabe! Mas eu não devia ter contado isto para ele!”. “Pois é, ele pode correr na sua frente e registrar as marcas!”. “Nossa eu não tinha pensado nisto! Amanhã mesmo vou providenciar o registro destas patentes!”. “Até mais meu amigo! Quem sabe você pode fazer algum talco com lã de vidro!”. “Já pensei nisto, mas não acho muito viável. Só vai ter saída na época do carnaval! Até logo!”.

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