Poeta, escritor, amante da música e da arte. Um ser humano muito simples em busca do significado profundo da vida, que é o amor, por onde a humanidade ganha sentido no exercício da fraternidade.
terça-feira, 10 de dezembro de 2013
QUAL A GRANDE LIÇÃO QUE O POETA APRENDEU EM SEU CAMINHO?
Queria voltar ao passado e trazer-me a mim. Mas não gostaria de voltar com as mãos vazias. Gostaria de voltar de mãos dadas e de almas unidas e untadas com o mesmo óleo precioso da unção dos profetas. Gostaria de entrelaçar-me naqueles cabelos adocicados deste óleo perfumado. Não sei o que restou daquele abraço. Não sei para onde foi quem me abraçou. O pensamento não gira como um moinho. Se o pensamento volta, ele é como um pássaro que volta ao seu antigo ninho.
Às vezes pergunto se ela também levou o meu abraço. Às vezes movimento a cortina que nos separa com seu fino linho. Busco encontrar onde ela guardou meu desejo ou escondeu meu carinho. Só conhece um caminho quem vai até o seu fim. O que eu sei do meu caminho? Quando olho daqui para o começo percebo só o tropeço. Aquele dado em cada passo. Em cada porta que abriu. Em cada porta que fechou. Naquele que partiu. Naquele que chegou.
Às vezes pergunto às telhas das casas, àquelas mais altivas e suspeitas de estarem à altura. Aquelas que olham por sobre os ombros dos muros.
Elas que beberam água de chuva em uma caneca de agata. Tenham talvez elas grandes lembranças passadas.
Nenhuma delas me mostrou segura. Todas estavam tão transtornadas. As últimas chuvas foram tão fortes que lavaram suas recordações. Foi então que as percebi nuas. A única nudez necessária é a nudez das mulheres amadas ou a solidão das ruas em tempo de neblina. Eu gosto de andar sozinho sob o maná da madrugada. De vez em quando cruzo a diáspora de minha vida. Imagens envelhecidas, tingidas de cinza, esculpidas pelo tempo já bem eternizadas. Imagens tão belas que desceram pelos seus beirais e caíram nas calçadas.
Estas telhas são como este velho poeta que somente é novo para colher os sentimentos mais profundos que por aí andam a vagar. Sentimentos que são dele e hoje tropeçam no trampolim do espetáculo. A saudade é o maior dos espetáculos. Ela é o pano de fundo de tudo.
Elas também são altivas como sou. A minha altivez é não estar encantado pelas estórias de carochinhas vindas de todos os mundos.
Assim elevo a minha tez e sorrio o meu sorriso de dentro do meu ser. Ainda é preciso caminhar. Caminhar é preciso e se meu caminho não foi preciso, graças a Deus por sua imprecisão. Conheci andarilhos por caminhos bem traçados, bem certinhos. Mas carregavam nas costas o fardo de uma tristeza muito grande. Pois quando não me foi possível andar com as pernas, andei com minh’alma e meu coração. Ainda é necessário balançar ao vento os braços enquanto se caminha.
Ainda é preciso esticar o pescoço para ver o que há mais longe. Bem mais adiante pode estar a vinha. Ou a ilha do sonho e do mel. Nem que seja aquele nunca atingido horizonte. É preciso ir sempre em sua direção. Só ele conhece o sabor do beijo da terra com o céu.
Ninguém está mais no ponto do que o horizonte. O horizonte está pronto. Pronto a receber a dádiva. Pronto a oferecer seus frutos.
Esta é a grande lição que o poeta aprendeu no seu caminho. Nós dois fomos o horizonte. Não nos importa saber quem foi o céu ou a terra. Mas nos importava saber que sabíamos onde estava o onde. O onde verdadeiro e original é aquele lugar onde cada um se esconde com ternura no ponto exato e sabe que é muito bom. Que é bom demais. É onde há coincidência e encontro dos dois desejos. É ali que fica o ponto de mutação. É somente ali de um e de outro onde as energias fervem e se transmutam. Onde o que é bom demais se eleva ao céu.
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