Poeta, escritor, amante da música e da arte. Um ser humano muito simples em busca do significado profundo da vida, que é o amor, por onde a humanidade ganha sentido no exercício da fraternidade.
segunda-feira, 16 de dezembro de 2013
QUEM FOI QUE ESCONDEU A JIBOIA?
Quando Otávio encostou sua camionete Chevrolet big foot de luxo em sua garagem não poderia imaginar o que estava para acontecer em sua vida. Pela leitura do relato, verão que tudo mudou em sua existência a partir daquele dia em que uma cobra jiboia dormia no banco de trás de seu veículo.
Otávio morava naquela mansão há quase um ano. Sozinho, quarentão, somente sorvendo pelas melancólicas melodias de sábados à tarde, seus mal vividos amores. Milionário, mas como se diz pelos cotovelos, dinheiro não traz tudo. Por exemplo, não compra felicidade.
Ele só não conseguiu entender como viajou de sua fazenda até ali, com uma jiboia dentro do carro, sem perceber.
Agora a cobra começava a roncar, mas susto não era para ele. Fazendeiro, plantador de café, criador de gados e vacas leiteiras, não se intimidaria tão facilmente assim.
Pensou em sua solidão. Naquela mesmice de sempre. Chegar a casa, tomar banho, comprar alimento pelo celular. Ligar a tevê paga. Dormir a hora que o sono chegasse, quando chegava.
Seu cachorro preferido morrera de velho. Seu velho companheiro se fora com um olhar lacrimoso de adeus.
Resolveu adotar a jiboia. Viveria na casa do cachorro. Traria carnes todos os dias. Antes uma amiga destas do que ninguém com quem reclamar de suas dores.
A nova rotina transformou seus novos dias. A cobra já o conhecia e lançava-lhe junto com sua enorme língua, um olhar de bondade e de alegria.
Dias vem e vão. A cobra sumiu! Como foi? Procurou por todo o quintal e pela casa toda. A porta da casinha estava aberta. Procurou até mesmo pelo telhado. Não podia dar alarme nenhum, pois ficou com medo do IBAMA.
Mergulhou em tremenda depressão com saudade da jiboia. Não dormia mais à noite. Não tomava banho. Não se barbeava. Não ia mais todos os dias para a fazenda. Seu carrão começou a ficar sujo. Ele andava com roupas sujas e amarrotadas.
Não se alimentava corretamente. Por aí vocês imaginam a falta que uma jiboia pode fazer. Mas não perdeu a inteligência. Talvez seja por este motivo que se diz: “Todo louco é muito sabido!”. Claro, pois a loucura leva tudo, menos a inteligência!
Andando um dia à noite pelo quintal, escutou uma voz vindo da casa da vizinha: “Minha queridinha jiboia, você sabe que te amo!”.
Não duvidou. A cobra estava morando com a vizinha! No outro dia de manhã apertou sua campainha. Demorou ser atendido. Sua vizinha também era uma solitária igual a ele. Rica, mas pobre de carinho e de companhia.
Quando ela apareceu ele foi logo gritando: “Vim buscar a jiboia!”. Ela nem o conhecia. Nunca o tinha visto. Era tão solitária que não colocava o rosto para fora. Nem deu tempo. Morava há apenas dois meses ali. Comprara aquela mansão vizinha do Otávio. Percebeu que fora descoberto seu furto. “Quem é o senhor?”. “Sou seu vizinho do lado! A senhora sabe que é proibido conservar jiboia dentro de casa? É considerado crime contra os animais! Pode dar até mesmo uma prisão!”.
“Pode dar para mim e para o senhor também!”.
“Vamos dividir então nosso tempo com a jiboia! Um dia para você e outro dia para mim!”
Otávio mandou derrubar o pequeno muro entre as duas mansões. Assim jiboia vai, jiboia vem, jiboia vai, jiboia vem. Nasceu entre eles uma intimidade em nível de paixão.
Casaram-se, finalmente! Quem podia imaginar que uma jiboia uniria dois seres solitários?
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