Poeta, escritor, amante da música e da arte. Um ser humano muito simples em busca do significado profundo da vida, que é o amor, por onde a humanidade ganha sentido no exercício da fraternidade.
quarta-feira, 18 de dezembro de 2013
SARNEY ENCONTRA O BERÇO DA LUA E DO SOL (FINALMENTE)
Seu nome verdadeiro era Fortunato, mas por certidão de aparência registrada no cartório da percepção popular: Sarney. Sem tirar ou colocar mais nada. A cara de um, a bochecha do outro. Não tanto como o outro, mas sentia-se quase realizado, no seu mundinho pé de serra. Ah! você não sabe a ninhada de andanças que está debaixo deste "quase". Filhos criados, embora malcriados, cafezais esverdeando colinas, paiós engordando ratos, galinhas botando pingue-pongue de ovos no vento de tanto sobrar. Arreios novinhos em folha, somados a conjuntos de esporas, estribos e barrigueiras, com chicotes cravados de prata, tudo em dia. Brilhava pedacinhos de ouro em seus dentes!
Porém, aquele "quase" era o todo vazio de sua vida, tal fresta em veneziana por onde o vento noturno incomoda. Aquela dúvida antiga cor da meninice, ali estancada em sua mente: onde nasce o sol e a lua? onde nasce o sol e a lua? Esta, a sua pergunta inquietante "ões" de vezes.
Tudo já estava preparado para a grande viagem em troco da resposta dada: galinha assada com farofão ressuscitando o ex-tropeiro e animais selados para a batalha.
Fortunato decidiu primeiramente descobrir o nascedouro do sol, tendo em vista sua pontualidade diária frente à lua. Em seguida, o presépio da lua. Foram longas viagens sem sucesso algum, deixando-o cada vez mais obcecado pela procura. Mal chegava em um montanha, olhava atrás dela e o sol nascia na outra montanha. Ia para outra....o sol nascia na outra.... Sua família se preocupou com aquilo. Não duvidaram que o velho Fortuna tinha batido a caçuleta. Os membros se reuniram e decidiram o ultimato: interná-lo em um hospício no Rio de Janeiro. Coisas daquele tempo. Traçaram seu destino. Agora, vestido com um macacão botafoguense, Sarney (ali é que o apelido pegou, pois não duvidavam mesmo que era o dito cujo) comentava todos os dias: ainda vou descobrir onde nasce o sol e a lua!
Imediatamente todos o apoiaram na façanha. Uns sem dentes, outros sem roupas, alguns sem unhas, mas todos sem juízo se dispuseram a ajudá-lo, custasse o que custasse.
Chegou o carnaval no Rio: fevereiro em fogo no samba da moçada, no rodopio dos morros fervendo sob pandeiros e tamborins. O vigia do hospício delirou sambando vestido de Zorro, transvestido de Tonto, tamborilando um jogo de chaves de forma eficiente a fazê-lo cair em mãos malucas e alheias. Os loucos ganharam as ruas e se vestiram com fantasias perdidas pelas calçadas, aos montões.
O hospício deu alerta pelas rádios que só tocavam samba e não era possível encontrar loucos no meio de milhares de napoleões, césares, fantasmas, duendes, arlequins, etc. Sarney vestido de Lampião, com uma demente feia vestida de Maria Bonita, após um fatigado dia carnavalesco, deitou-se nas areias da Praia de Copacabana. Quando o dia se ilumina, lá vem o sol de dentro do mar! O velho sorriu satisfeito. Resolveu passar mais um dia de carnaval com sua companheira naquela maravilhosa praia. A tarde veio caindo. Olhando em direção à praia, viu a bela lua cheia saindo de dentro do mar.
No dia seguinte, conseguiu uma carona em um caminhão e voltou completamente curado para a sua terra natal. O enigma de sua curiosa esfinge estava descoberto. A família percebeu que ele não tinha mais a doença mental. Sarney ficava sorrindo de feliz. Quando alguém lhe perguntava, "onde nasce o sol e a lua?", ele respondia calmamente: "ambos os dois conjuntamente nascem na Praia de Copacabana!".
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