quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

BBB, TRÊS VEZES BRASIL

Como pode acontecer uma coisa destas? Um sapo em um vidro de maionese! Raimundo acordou com os primeiros raios de sol sobre o criado mudo. Levantou-se rapidamente e digamos que pulou para dentro de sua calça jeans e adentrou em sua camisa, meias e sapatos. Agora de pasta na mão, depois de um café tão expresso que lhe queimou a língua e um pão esquentado no micro ondas, alcança a rua em um salto. Sua mulher miava como uma gata sobre a mesa.
O vizinho da frente, mais uma vez o vizinho da frente com seu disco engolido pergunta a Raimundo se a palavra conceito é com "c" ou dois "ss". "Ô advogado feito nas cochas, pensa apressadamente!" "Com "c"!" O outro mais um vez indaga se é com "c" purinho ou cecedilha?. Ainda mato este cara um dia, pelo amor de Deus! Caminha seu pensamento. Mas responde: com "c" purinho!
Pela calçada o trânsito é mais louco que na avenida. Chegam as duas universitárias. Todo mundo sabe da vida delas. Uma loura, outra morena, mas não é a toa. São de programa, isto mesmo, garotas de programas. Conhecidas como as garotas do tcham! Tcham? Tcham-tcham, tcham-tcham! Vão se formar em psicologia. Ainda sobrevivem e estudam graças ao boom do bumbum!
A Faculdade fica bem ali no fim da avenida. Raimundo conhece o Reitor. Vende material de escritórios para a secretária dele. Ela tem umas pernas muito bonitas, e quando as cruza, céus! As vistas turvam! Deixou o tele sexo para secretariar a futura universidade! O Reitor, anteriormente tinha um ferro velho no local, mas quando soube que Faculdade particular dá mais dinheiro, não perdeu tempo. Educação virou negócio. Aluno agora é mercadoria. Mercadoria não precisa ser boa para jogar no mercado. Ninguém lê seus rótulos. Nada melhor do que uma fábrica de diplomas. Vendeu tudo e começou com um Curso de Pedagogia noturno. Hoje já tem Licenciatura Plena em todas as disciplinas. Por isto esta enxurrada de analfabetos plenos a ponto de entupir bueiro. Todos formados em faculdades!!! Agora ele comprou quatro alqueires de terra nos arredores da cidade, para ampliar seu fabuloso negócio, com os cursos de Medicina, Veterinária, Engenharia, Culinária e Teologia, sob os olhos inchados e estupefatos dos catadores de lixo, pois o terreno era um lixão. Os pobres coitados vão ter que andar a pé mais seis quilômetros para ganhar o pão nosso de cada dia, despejado em toneladas de descartáveis, pelo novo homem, teleguiado pela sociedade de consumo.
Torna-se necessário, antes de ir à batalha, passar na banca de revistas. O dono é um senhor bem educado. Deixou um emprego na Petrobrás para montar a banca. Dá mais e trabalha menos. Não precisa se esfolar quinze dias numa plataforma, uma espécie de ilha leviatânica, pois vai devorando o solo por dentro e a natureza por fora.
Na primeira página do jornal, o retrato estampado da sociedade. Psiquiatra vende informações para a mulher de um milionário, sobre seu marido. Cai um prédio no Rio de Janeiro por deficiência de cálculo na resistência de materiais.
Encontraram um sapo num vidro de maionese. Meu Deus! Esta é a maior. Como tão absurdo como um rabino casado com uma militante do Hamas!
Médico faz cirurgia cardíaca em paciente trocado. A cirurgia seria de estômago. O outro fez a redução do estômago e morreu de parada cardíaca. O de estômago continua com a pança estufada, mas não sabe explicar como lhe arrancaram o coração e como receber uma visita de um pai chorão que quer conhecer o homem que recebeu o coração de seu filho! Inclusive adotá-lo com o nome de "meu filho cardíaco". Toda a rota de sua vida fora desviada pelo curso infame de um bisturi!
Futebol, música sertaneja, corrupção, faça o ensino fundamental e médio em quinze dias, tudo é assunto no país do bumbum de melancia. Pastor vende pedaços da cruz de Cristo! Raimundo lê apressadamente, pois precisa visitar seus clientes.
Fabrício acorda com os primeiros raios de sol sobre o criado mudo. Estica os braços e lê: "mundo mundo vasto mundo, se eu me chamasse Raimundo seria uma rima, não seria uma solução. Mundo mundo vasto mundo mais vasto é o meu coração."
Fabrício havia dormido após ter lido o Poema de sete faces de Carlos Drummond de Andrade e se hipnotizou com a leitura. Percebe que ele não é Raimundo, embora seja vendedor de materiais de escritório. Embora lá fora, é verdade que o mundo esteja assim. Que por sonhar-se Raimundo não daria solução ao mundo.
E por mais vasto que fosse seu coração, teria que sair para a batalha de cada dia. Mesmo que "um anjo torto desses que vivem na sombra" do seu inconsciente, lhe dissesse: "Vai Fabrício! ser gauche na vida".

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