Anita mergulhada em sua solidão apanhou um papel, escreveu seu recado, colocou-o dentro de uma garrafa. No outro dia, levantou-se cedo, foi até à beira da praia e jogou-a ao mar.
Todos os dias, as ondas iam e vinham até a areia, enquanto vinha e ia Anita, num vai e vem de vontade e natureza que não parecia ter mais fim.
Um dia, ela levantou-se cedo, para ver o sol nascer no espelho das águas e encontrar uma resposta para o seu recado amoroso.
Foi quando viu sua garrafa na boca de um robalo morto. Não era esta sua intenção. Nunca pensou em tirar a vida de um peixe, por causa de um simples poema de amor.
Retirou a garrafa e jogou-a de novo no mar. Dias depois, recebeu um embrulho sedex do correio. Abriu-o. Era a garrafa. Junto estava escrito: Sou pescador. Esta garrafa veio na rede e como estava escrito "quero que volte para mim, mesmo que seja assim, depois do fim" e como tinha seu endereço, resolvi enviá-la para você. Afinal de contas, sou supersticioso e acredito que sou honesto com minhas intenções, principalmente quando há um desejo envolvido num objeto, desta forma.
Anita pensou: "Agora jogo só o papel, sem a garrafa e seja o que Deus quiser, já que a garrafa está me trazendo danos"
Amassou o papel na mão e foi para a praia. Jogou-o no meio das ondas. Havia um homem sentado a certa distância, que saiu correndo, nadou, apanhou o papel, chegou até Anita e disse que não é assim que se faz! O papel tem que ser jogado dentro de uma garrafa, senão traz azar para você! Venha cá até o quiosque e vou arrumar uma garrafa para você. Segurou a mão de Anita, que meio tonta, acabou cedendo à insistência do homem.
Conversa vai, conversa vem. A maravilha do sol, as nuvens brancas no céu azul, o mar inundando de beleza toda a enseada, a areia branca faiscando astros....
A garrafa esvaziou. Anita apanhou o bolinho de papel e jogou-o numa latinha de lixo.
Jogou a garrafa no lixo e se jogou nos braços daquele homem que para ela valeram mais que a praia e a extensão do mar.
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