Poeta, escritor, amante da música e da arte. Um ser humano muito simples em busca do significado profundo da vida, que é o amor, por onde a humanidade ganha sentido no exercício da fraternidade.
sábado, 11 de janeiro de 2014
O PRETENSO ANALISTA DE BAGÉ E SUAS PERIPÉCIAS
Depois que Luis Fernando Veríssimo abandonou o analista de Bagé, na última página de seu livro, este famoso psicanalista virou um maldito apócrifo e foi morar no sertão de minas gerais em uma pequena cidade interiorana, em um prediozinho de quatro andares. Chamava-se Dr.Phillips. Nome escolhido a dedo e com muita perícia. Assumia-se como o verdadeiro analista de Bagé. Ao ler o livro não duvidou mais que ele era aquele personagem encarnado. Curtia ali sua diáspora mirando nos arvoredos em frente os contornos de seus delírios. O que ninguém sabia era de seu alcoolismo congênito. Bebia como gambá no cio e sua ânsia levava-o a comer sem parar, como preá no mandiocal. O que mais óbvio encontrava em sua saliente pança. Possa ser que este comportamento incômodo tenha levado o escritor à fatal decisão de exilá-lo. Ele também não compreendia que livro é como estrada que termina em um ponto final. Seu último ponto final determina o fim daquela estória. Mas ele não aceitou esta determinação literária e sentiu-se frustrado, buscando nos confins de minas gerais uma solução para o seu resgate. O escritor que captara o personagem na vida real encantara tanto ao mesmo que este relutava a viver sua insensatez no mundo fora de matrix. Quem sabe encontraria ali, naqueles campos de capim gordura e boi no pasto, algum andarilho vestido de um profeta psicótico que o forçasse e convencesse a voltar para a casa do seu pai ou seja o livro. Mas que fosse enviado pelo pai da ideia, pois caso contrário teria que arrombar a porta de entrada chamada capa dura.
De brincadeira dizia: cumpro um destino gaúcho - estou de quatro! Vivo com a bunda virada para a lua. Esta sempre atraente e maravilhosa, iluminando os inspirados e pacificando os inconformados ou desiludidos./>
O analista se isolou e passava seus dias lendo gibi e recauchutando palavras cruzadas. Sem amigos, sem parentes, sem clientes, mergulhara em profunda depressão, tentando se autoanalisar e culpando demais ao escritor de tê-lo abandonado assim.
Ele que havia curado tanta gente, agora se encontrava no fundão do poço. Andava para lá e para cá na grande sala de visita, sempre vazia, conversando sozinho e fumando um enorme charuto cubano. Às vezes vestia-se de Fidel, mas outras vezes fidedignamente não.
Os que passavam pela rua escutavam-no aos berros, procurando para onde foi você Luis e complementando que você não cumpria mais com a luminosidade de seu nome, pois apagara a luz expulsando-o do mundo da criatividade na última página do livro famoso.
Seu vozeirão vazava noites inteiras repetindo que veríssimo era um mentiroso, e que sua verdade maior era banir um personagem de envergadura invejável, o que era comprovado e veríssimo.
Uma bela tarde, uma vizinha tocou a campainha. Ele atendeu e abriu a porta enquanto ela abria sua redonda boca abatonzada de vermelho perguntando se o senhor tem uma chave de fenda que sirva para mim. O analista mirou-a de baixo em cima sob aquelas roupas picantes expondo seu corpo sensual e depois de contemplar seu shortinho, respondeu-lhe oh! prenda minha, a minha chave pelo tempo sem uso, está um pouco enferrujada. Mas pode entrar que ela é philips legítima.
Foi desta forma, efetuado seu retorno ao seu verdadeiro mundo, que era aquele sempre vivido aqui do lado de fora. Pois foi aqui deste mundo mesmo onde se compra e faz negócios, que o escritor percebeu um vulto destes e aprisionou-o em seu livro.
Estava liberto. Não era só um personagem idealizado por ele mesmo na leitura do livro, mas era algo vivo, encarnado, vivendo as delícias de uma nova aventura, digamos sexual.
A capa principal do livro seria a porta da sala e a última capa, a porta dos fundos. Entenda quem tiver sabedoria.
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