Poeta, escritor, amante da música e da arte. Um ser humano muito simples em busca do significado profundo da vida, que é o amor, por onde a humanidade ganha sentido no exercício da fraternidade.
sexta-feira, 10 de janeiro de 2014
UMA FOTO ME LEVOU A SÃO JOSÉ DO CALÇADO
Aquela foto em que estava todo desarrumado, todo despenteado, de chinelos de dedos nos pés, era a foto de mim mesmo. Do meu sentir por dentro bordado no visor do celular do lado de fora.
Caricatura de minha íntima simplicidade, autêntica marca do meu jeito calçadense em qualquer canto por onde apareço.
Foi o meu dentro que saltou sem rumo para ver a aurora.
Foi o meu intento de ver estrelas e não contá-las, pois nascem verrugas nos dedos.
Foi o que a objetiva captou com o seu foco, o ângulo de minha autêntica humanidade, do meu verdadeiro lócus brotando novo, viçoso, sobre as duras pedras daquela praça por onde eu pisava.
Mas resplandeceu em meu rosto uma alegria tão pura conjugada com o sorriso da Lalá em meus braços, com a sua leveza, sua meninice perfumada pelo alvorecer da infância.
Desta forma aquelas pedras ficaram mais macias e suaves no âmbito daquela foto tirada sem avisar.
Minha descuidada presença, meus cabelos despenteados, minha forma simples e comum do povo de Calçado.
Minha estrutura que nunca envelhece, pois subi as ladeiras de minha terra natal, tornando meus ossos e músculos fortificados.
Juntei tudo isto à inocência de Lalá.
Ficou ampla aquela praça. Ficou tão grande como minha praça encantada, arquivada na minha lembrança. Aquela praça sem fim da Matriz ao Grupo Escolar. Aquele tesouro escondido no solo fértil de minha primeira observação.
Tudo isto como um milagre veio à tona nesta foto, transformando estas pedras em contas de mel de minha praça vivida em São José do Calçado.
Aquela foto ainda revelou uma rebeldia de minha mocidade, saltando por cima de centenas de avisos de mamãe, para que não fosse à praça todo despenteado.
Rebelião juvenil, bem compreendida, é uma forma de romper os laços com a maternidade.
Mas a repetição deste ato rebelde, agora em madura idade, é uma reação intrapsíquica que se chama saudade.
Minha saudade maior assina páginas e páginas em minha mente pelo nome de mamãe.
Uma repetição que abranda minha maior saudade que se chama mamãe. Mamãe encontrou no Alzheimer uma forma de ir embora dormindo sem dormir um sono eterno depois de cada adeus.
Há tanta coisa naquela foto que minha filha Danielle tirou, que não há tecnologia do mundo que possa desvendar.
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