quinta-feira, 21 de dezembro de 2017

Poema de Cristo na cidade de Judas

Nas cidades de pedras os homens viviam truncados, em seus peitos arfantes tropegavam suspiros em morfemas trancados por guardas reinóis em algemas trancafiados e quando saíam às ruas não iam de braços dados a sóis nem a luas, pois as ruas eram de pedras e seus passos pesados carimbavam nas suas rígidas arestas as chagas dos seus fardos e seus vultos desalinhados como párvulos e sombrios seres sem alma! Um dia, com sete pancadas magistrais bateram no grande portão de pedra da cidade de pedra dos homens de coração de pedra e quando o abriram com um sorriso de pedra, viram-se diante de um ser com uma face macia de lã e com um gesto de amor no ar, como um bisturi rasgando as vestes de pedra daquela manhã e a vestindo com uma capa de organdi, que as poucos foi-se expandindo e a cada pedra abrandando, mudou em cada retina a posição de cada astrolábio e latejando perfumes de cinamomos e cássias por cada viela e esquina e retirando a venda de mortalha de seus olhos, tornou-os tão leves como meteoros e plumas, que já não andavam e sim sobrevoavam sobre dunas macias, como se entre videiras se põe a colher uvas e entre macieiras se põe a colher pomos! Dizem por lá que se venderam a Cristo por trinta moedas, somente o amor, o grande amor é capaz de mudar os corações de pedras!

Nenhum comentário:

Postar um comentário