
O clube funcionava pontualmente todos os finais de semana a partir das dezoito horas. O local correspondia integralmente ao mais sublime dos sonhos de Fellini.
Além das suntuosas luminárias caindo como chuvas de prata do teto, exalava de cada face aquele reconhecido discreto charme da burguesia. Juntava-se a esta convivência conflituosa a dissimulação embutida e disfarçada dos ricos em queda, mas esforçados ao máximo em manter um status já consumido pelo ralo da crise mundial.
Neste momento chega o general. Sempre ao seu lado sua pontual esposa de prontidão. Vocês sabem, todo militar só trabalha em conjunto e nada melhor para expandir seu sorriso de autoconfiança, do que uma nobre senhora ao seu lado.
Esta trazia em suas mãos um maravilhoso bolo. Envolvida pela tendência natural de todas as mulheres, sentia-se realizada sob o espelho de todos os olhares confirmando-lhe a autoria daquela preciosidade.
O general mantinha-se ereto como uma coluna do antigo Egito e também autoritário e machista nos gestos e atitudes.
Aproximou-se um daqueles simples que quando em vez, não sei se por mãos do destino, aparecem como convidados em ambientes assim. São como polens esvoaçantes no vento, caindo sobre paletós engomados de capitalistas vorazes.
“Lindo bolo! Dá até pena de cortá-lo e consumi-lo! Vejam a importância da mulher! Que seria do mundo se não fossem as mulheres. São elas que resplandecem como os poemas de Gabriela Mistral. Ninguém sabe pentear uma criança como uma mulher! São elas que colocam rendas nas toalhas e enfeitam as mesas de festas! São elas que escolhem as cortinas das janelas e as fazem emoldurar as salas! São elas que colocam jarras de flores sobre as mesas para encantar todos os convidados! A mulher é a alma do mundo. Não haveria sentido nenhum nesta vida se não fosse a mulher!”
A madame olhou surpresa com todas aquelas palavras. Ela queria ficar apenas com a impressão jorrada sobre os convidados.
Mas vocês sabem que a serpente pode estar enrolada na curva da estrada. Assim, ela deu aquele olhar de admiração para o machão ao seu lado. O general num gesto de uma palmeira à beira da praia dobrando-se ao vento, exclamou:
“Esta maravilhosa torta foi feita por mim! Obrigado pelas suas sábias palavras meu amado poeta!”
A frase saiu como um lapso de dentro de sua madrugada escondida. Se todo o grande homem tem uma grande mulher ao seu lado, no caso deste general, o grande homem tinha uma grande mulher dentro de si mesmo. Escondida, camuflada, soterrada sob a exigência do ofício e as condecorações da farda.
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