
O casal vivia muito bem. Alberto e Ana, Ana e Alberto. Se a repetição parece um reforço linguístico para demonstrar com palavras o amor de cola entre os dois, pode crer, é muito pouco.
Ai daquele dedão apontando uma falha naquela vida a dois. Ele cairia como um pimentão maduro sob o azul do céu.
Na época de namoro não houve fofoca alguma capaz de abalar os alicerces de suas estruturas amorosas.
Não faltaram linguarudos e tagarelas à altura de derrubar um império. Porém, porém não funcionou nenhum plano maquiavélico.
Na bula sentimental dos dois não existia contra indicação. Nasceram um para o outro. Um provérbio árabe, maktub, estava ali instituído atravessando como a paciência do deserto, o destino selado dos dois: estava escrito!
Em todas as festas, via-se o único vulto formado pelo entrelaçamento dos dois.
Na fila de cinema como dois pombinhos saltitando à busca de alimentos, disputavam o mesmo saquinho de pipocas.
Já viu um amor maior? Pois vou ganhar este jogo nos últimos minutos do segundo tempo!
Vai aparecer uma surpresa final como o Fred num lance saído entre o intervalo de um segundo e outro.
Um fato aconteceu como início na escola dominical da igreja dos dois, obviamente.
Cida, linda e sexy, chorava em um canto. Ana sempre foi sua amiga. Desde os distantes tempos estudantis. Não poderia deixá-la assim. A verdadeira amiga não nega sua presença nas horas tristes de suas amigas.
Deste momento de conversa e consolo surgiu a razão única daquelas lágrimas tristonhas.
Ela morava com sua irmã mais velha. Ambas solteiras e juntas desde o falecimento de sua mãe. Perderam o pai na infância.
A irmã resolvera morar com a namorada, vendo-se Cida sozinha. A solidão abafava-lhe a vida.
Alberto e Ana viviam numa casa muito grande. Com pena, resolveram convidar Cida para morar com eles. Sobrava quartos.
Esta aceitou imediatamente o convite. De tão grande a casa, quase não se viam. Desta vez, a solidão e a liberdade iam se aproximando aos poucos.
Solidão e liberdade só combinam quando ambas conseguem manter uma distância em razão proporcional.
São como a luz e a sombra. Só há equilíbrio quando o sol está aparecendo ou desaparecendo.
À medida das horas uma vai dominando a outra.
Em uma sexta-feira, (não me diga sobre coisas estranhas nas sextas-feiras!), Ana saiu primeiro para o trabalho. Alberto atrasou, pois necessitava trocar um pneu furado do carro.
Estava na garagem apanhando a chave de roda e o macaco, quando deparou com Cida nuazinha em sua frente: “Meu bem, eu te quero agora! Esperava por este momento!”
Alberto apavorado colocou as mãos na cabeça e gritou: “Pelo amor de Deus, minha amiga, não faça comigo, o que a mulher de Potifar fez com José do Egito!”
“Não, pode ficar tranquilo. Quero fazer com você o que a mulher do Ribamar faz com um pirulito!”
Neste momento, uma música rolava no rádio do carro: “Adocica meu amor, adocica! Adocica meu amor a minha vida! Quero ter você pra sempre, você pertinho de mim! Morena doce gostoso, magia do meu prazer! Me faz gato e sapato, me dá mais prazer!”
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