domingo, 5 de maio de 2013

AMOR ANTIGO

O casal vivia muito bem. Alberto e Ana, Ana e Alberto. Se a repetição parece um reforço linguístico para demonstrar com palavras o amor de cola entre os dois, pode crer, é muito pouco. Ai daquele dedão apontando uma falha naquela vida a dois. Ele cairia como um pimentão maduro sob o azul do céu. Na época de namoro não houve fofoca alguma capaz de abalar os alicerces de suas estruturas amorosas. Não faltaram linguarudos e tagarelas à altura de derrubar um império. Porém, porém não funcionou nenhum plano maquiavélico. Na bula sentimental dos dois não existia contra indicação. Nasceram um para o outro. Um provérbio árabe, maktub, estava ali instituído atravessando como a paciência do deserto, o destino selado dos dois: estava escrito! Em todas as festas, via-se o único vulto formado pelo entrelaçamento dos dois. Na fila de cinema como dois pombinhos saltitando à busca de alimentos, disputavam o mesmo saquinho de pipocas. Já viu um amor maior? Pois vou ganhar este jogo nos últimos minutos do segundo tempo! Vai aparecer uma surpresa final como o Fred num lance saído entre o intervalo de um segundo e outro. Um fato aconteceu como início na escola dominical da igreja dos dois, obviamente. Cida, linda e sexy, chorava em um canto. Ana sempre foi sua amiga. Desde os distantes tempos estudantis. Não poderia deixá-la assim. A verdadeira amiga não nega sua presença nas horas tristes de suas amigas. Deste momento de conversa e consolo surgiu a razão única daquelas lágrimas tristonhas. Ela morava com sua irmã mais velha. Ambas solteiras e juntas desde o falecimento de sua mãe. Perderam o pai na infância. A irmã resolvera morar com a namorada, vendo-se Cida sozinha. A solidão abafava-lhe a vida. Alberto e Ana viviam numa casa muito grande. Com pena, resolveram convidar Cida para morar com eles. Sobrava quartos. Esta aceitou imediatamente o convite. De tão grande a casa, quase não se viam. Desta vez, a solidão e a liberdade iam se aproximando aos poucos. Solidão e liberdade só combinam quando ambas conseguem manter uma distância em razão proporcional. São como a luz e a sombra. Só há equilíbrio quando o sol está aparecendo ou desaparecendo. À medida das horas uma vai dominando a outra. Em uma sexta-feira, (não me diga sobre coisas estranhas nas sextas-feiras!), Ana saiu primeiro para o trabalho. Alberto atrasou, pois necessitava trocar um pneu furado do carro. Estava na garagem apanhando a chave de roda e o macaco, quando deparou com Cida nuazinha em sua frente: “Meu bem, eu te quero agora! Esperava por este momento!” Alberto apavorado colocou as mãos na cabeça e gritou: “Pelo amor de Deus, minha amiga, não faça comigo, o que a mulher de Potifar fez com José do Egito!” “Não, pode ficar tranquilo. Quero fazer com você o que a mulher do Ribamar faz com um pirulito!” Neste momento, uma música rolava no rádio do carro: “Adocica meu amor, adocica! Adocica meu amor a minha vida! Quero ter você pra sempre, você pertinho de mim! Morena doce gostoso, magia do meu prazer! Me faz gato e sapato, me dá mais prazer!”

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