quinta-feira, 16 de maio de 2013

O Caipira tirado a sabido

Desde cedo Juca foi um problema daqueles quase insolúveis. Vocês conhecem um tipo de carinha chamado desde pequeno de pimentinha? Sim, o tal arteiro, das façanhas escondidas soltando busca-pés no meio da festa da padroeira. Pois bem, uma vez despachou um e por mãos invisíveis do vento, içaram debaixo da batina do padre. Como recurso o dito pároco levantou suas bordas ao ar. Digamos, a coisa ficou difícil de explicar. Na escola, a professora passou um trabalhinho construtivista. Deveriam fazer um desenho relacionado com o Hino Nacional. Juquinha desviou-se para um canto da sala e desenhou um boneco deitado em uma caminha. A professora fez um ai de suspiro longo: “Qual o significado do seu desenho?”. “Deitado eternamente em berço esplêndido!”. “Nossa menino, eu quase gostei! Você é capaz de fazer outro desenho?”. Juquinha debruçou-se na folha do papel. Em quinze minutos o desenho estava pronto. Quando a professora viu, engoliu seu suspiro, mas conseguiu falar: “Menino o que é isto?”. “Gigante pela própria natureza, professora!”. Ela observou pela última vez o manjolo debaixo do jegue desenhado. Acertou suas contas, pediu exoneração e foi ser vendedora de cosméticos. O garoto também não seguiu seus estudos. Cresceu, mas era o mais letrado daquele lugar. Um dia seu compadre Silva necessitava fazer uma viagem à capital, levando-o como sua companhia. Afinal de contas, ele sabia ler mais ou menos, fazia cálculos de cabeça, além de ser muito esperto. Visitaram uma catedral. Silva ficou observando um Cristo crucificado com um nome escrito na cabeceira da cruz: INRI. Como era analfabeto, pediu para o compadre ler a palavra. “INRI, está escrito INRI!” “O que quer dizer INRI compadre, na cabeça do sofrido?” “É a aberviatura do carpinteiro que fez a cruz! Ele se chamava Inrique!” A curiosidade costuma levar o indivíduo para caminhos diferentes e estranhos. Juca, após assistir um sermão de um pastor evangélico, abandonou seu catolicismo para abraçar sua nova religião. Adquiriu uma bíblia para ler noite e dia. Quis entendê-la o mais rápido possível. O pastor advertiu-lhe: “Se o senhor tiver alguma dúvida, me procure para lhe explicar!”. Um mês após, Juca bateu-lhe na porta: “Pastor, preciso de sua ajuda. O que o nosso hino nacional tem a ver com os filisteus?”. “Como assim, seu Juca?”. “Pastor, quando eu era estudante, aprendi a letra do Hino Nacional. Fiz até alguns desenhos interessantes sobre ele. Tem uma parte do Hino que fala assim: o filisteu não foge à luta! Li na bíblia a luta do Rei David com os filisteus! O brasileiro é filisteu também?”. “Meu amigo, não é filisteu não. É filho teu não foge à luta. Você tem mais algumas dúvidas?”. “Tenho sim, pastor. É sobre Jesus Cristo!”. “Você duvida de Jesus Cristo, meu irmão?”. “Pastor, eu gostaria de saber se ele era casado?”. “Casado? Você está ficando doido? Onde você viu isto na bíblia?”. “Pastor, tem uma parte na bíblia que diz que Jesus Cristo estava crucificado e aos seus pés estava a TUNICA!”. “Meu amigo, não é uma mulher com nome TUNICA não! É TÚNICA! TÚNICA! Entendeu?” “Mas pastor, Jesus Cristo era um sujeito complicado, não era?”. “Meu irmão, quanta blasfêmia! De onde você tirou isto?”. “Na minha bíblia eu li, pastor, que Jesus vinha de JERICO e entrou em Jerusalém montado num JUMENTO. Ora, deste animal enfezado e mulherengo eu entendo tudo. Sair de um JERICO e montar num JUMENTO é a mesma coisa, pastor!”. “Meu irmão, pelo amor de Deus! Não é o animal jerico não! É a cidade de JERICÓ!!!”. Juca voltou para casa todo encabulado. Matutava sobre as coisas difíceis de sua nova religião. Começou a pensar e duvidar de tudo que aprendera em sua antiga religião. Caminhava falando sozinho: “Nossa Senhora coisa nenhuma! Devemos respeitar a mãe de Jesus Cristo. Não devemos adorá-la! Nossa Senhora coisa nenhuma!”. Passando sobre uma pinguela de um rio caudaloso, esta quebrou. Quando ele caiu dentro da água, foi ao fundo e voltou, gritou: “Me valha Nossa Senhora!”. Neste momento apareceu um galho de árvore. Ele agarrou no mesmo. Respirou aliviado e desabafou: “Nossa Senhora coisa nenhuma! Se não fosse este galho de árvore eu teria morrido afogado!”. O galho quebrou! Juca urrou: “Cruz credo, a gente não pode mais brincar com a Virgem Maria!”. Mas ele deu sorte. O Eterno Deus Poderoso ama a todas as criaturas. Um tronco de bananeira boiando um pouco mais abaixo foi sua balsa de salvação. Continuará com suas besteiras? Com certeza! Quem nasce para tatu morre cavando.

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