Salim rolava na cama prá lá e prá cá. Não conseguia dormir nem feito feto, nem fato afeto. Salomé já estava incomodada com aquele barril de gente empenando a cama no seu centro de gravidade.
"Salim, porque você não dorme?"
"Eu não durmo, porque devo ao Assef mais de duzentos mil e não tenho como pagar isto agora!"
Salomé olha pro relógio sobre a mesinha do quarto, com um bracinho nas três e um bração nas doze. Três horas da madrugada. Levanta-se e vai até ao telefone e disca. "É da casa do Sr.Assef?" "Sim, aqui é o próprio do mesmo que fala!"
"Pois bem, aqui é a mulher do Salim. Escute, Sr.Assef, o Salim nem tão cedo vai te pagar aqueles duzentos mil!"
Desligou o telefone, bateu nos ombros do turcão e disse: "Pode dormir Salim, que agora quem não vai dormir é o Assef!"
Mas Salim era tão sabido quanto Salomé. A fiscalização estadual já estava de telescópio nele. Sabiam que ele vendia e comprava sem nota fiscal. Era uma enrolada danada e queriam pegar ele com a mão na cumbuca, ou melhor, corrijo, com a mão na bacia do kibe.
Em plena segunda-feira, um caminhão de feijão aprontadinho na porta do Salim. Os fiscais chegaram afobados. "Deixa ver a nota seu Salim. Sabemos que o senhor está vendendo sem nota fiscal!"
A palavra "vendendo" foi a âncora por onde Salim não se afundou. Virou e gritou para Salomé: "Não tira mais a nota do feijão não, Salomé. Estes caras aqui me aborreceram. Tão dizendo que não vou tirar nota fiscal. Agora eu não vendo mais este feijão. Deixa o povo morrer de fome. É isto que eles querem. Manda os meninos descarregar o feijão, porque estou aborrecido demais! E vocês sumam da minha porta! Não tão deixando mais a gente nem respirar. Vocês tem que fiscalizar sim, mas atrapalhar os outros trabalhar, não!" Os fiscais saíram sem graça e Salim cheio de graça ficou muito feliz, pois na verdade ele estava era comprando feijão sem nota fiscal!
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