quarta-feira, 1 de janeiro de 2014

MANEQUIM DA CONFUSÃO

O cara era professor de desenho industrial de uma escola técnica. Não posso aqui citar nomes não, que ainda tem coelho fora da toca por aí (cale-te boca!). Mas foi verdade de arregalar o umbigo. A escola era enorme e com dois andares, sendo o pátio interno em forma quadrangular, com os respectivos andares em suas laterais.
O danado era engenheiro e metido a besta desenfreada que só vendo. A garotada não parava de gritar: "Manequim! Manequim! Manequim!". Chegou um momento que o bicho desconfiou que era com ele a ponto de transcolorir sua careca draculiana. Diziam que se adaptasse dois dentes caninos longos nele e uma capa vermelha, seria imediatamente contratado por Hollywood para trabalhar num filme mais ou menos assim: "Drácula vence a estaca!".
Como disse, o ganjão desconfiou que o negócio era com ele mesmo. Conversa aqui, futuca ali, fofoca acolá: "É comigo mesmo!".
Ele era a fotocópia, o irmão gêmeo, o auto-retrato perfeito, limpinho, passado a ferro trifásico de um manequim de uma imensa loja que se instalara no coração da cidade!
Foi lá bem disfarçado, com um boné do flamengo na cabeça, viu, conferiu, mediu o boneco e não teve dúvida nenhuma: "Alunos miseráveis, descobriram meu protótipo aqui! Vou pedir a minha mulher para comprar este vascaino pelo preço que der. Vou botar fogo neste cruz-credo na primeira encruzilhada que encontrar pela frente!".
A mulher partiu destroloucadamente de viés para a loja e foi logo mandando: "Moço, quanto você quer neste manequim?" Minha senhora, a loja de sexy shop fica no segundo quarteirão!"
"Não moço, né prá isto não. Isto não funciona lá em casa já faz tempo. Se um me mata de raiva, dois nem pensar, quer dizer, você não entende o que eu falo, estou falando demais, mas eu queria levar ele pra enfeitar a minha sala, quanto você quer nele?"
"Senhora, isto aqui não vende manequim. Nós vendemos de tudo desde roupas a eletrodomésticos, mas este aí não!" O vendendor deu aquele sorrisinho de lado e deslanchou:"A senhora não sabe o lucro que este bicho tá dando prá nós! Depois que botaram ele aí, nossas vendas cresceram tres vezes mais. Ele já se tornou nosso garoto, ou melhor dizendo, nosso careca propaganda! Tem mulheres que já beijaram a careca dele!"
"Moço, se beijaram a careca dele, manda elas levá ele pra casa!" Desaba a mulher numa ponta de ciume. "Minha cara, se nós não vamos vender o cabra, dar ele pros outros muito menos!"
A mulher começou a pensar:"Lá em casa ele só enche o saco. Os vizinhos não gostam dele. Ele é considerado antipático por todo mundo. Agora aqui na loja o bicho é querido por todos. Não dá pra entender este mundo. É por isto que as lagartixas ficam em cima do muro tribatendo as cabecinhas e dizendo: este mundo tem coisas, este mundo tem coisas". Em volta dela havia dezenas de alunos que se revezavam na loja para ver o manequim parecido com o professor. Ela não os conhecia. Seu diálogo com o vendedor foi pego desnudo. No dia seguinte enquanto o professor passava no pátio, os alunos gritavam: "Manequim mané! Manequim mané! Manequim mané!".

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