O cara era da roça. Entendia de pé de milho, bicheira em animal, colheita de café, plantio no tempo certo, mas de cidade não, não sabia nada. Porém, um dia foi visitar a metrópole. Podemos dizer que foi obrigado a este empreendimento. Pai tem que visitar filhos, tem ou não tem? Claro que tem! Diria a plateia de qualquer pastor da tevê! Estes tipos de auditórios lotados de gente tão inteligente e sana, que em pleno domingo, um pastor pergunta dez vezes se hoje é ou não é domingo e todos respondem em uníssono: ééééééééééééééééé´!!!!! Em seguida vem uma salva de palmas, por terem acertado a pergunta. Portanto, pelo fato do matuto não saber andar na cidade, não significa que ele é bobo. Também pelo fato de alguém nascer na cidade, não significa que seja sabido.
Matuto sai com o endereço no bolso. Mal sabe ler. Pergunta como faz para tomar a ponte. Matuto não entra em ônibus, ele pega o ônibus, pega o outro ônibus, o outro, até que chega de alguma maneira no pé do prédio. Mesmo sem calcular o tamanho da ponte e do ônibus. Quando chega no edifício, às vezes bate com a cabeça no vidro, mas roceiro tem a cabeça dura, seja por fora ou por dentro. Topa de frente com o porteiro de gravata e o chama de gerente. Entra no elevador e fica virado pros fundos encarando a parede de lata cinza. Elevador sobe, mas alguém chama e ele desce. Matuto vira de frente, sai do bicho e volta para o primeiro piso. Topa de novo com o gerente engravatado. Então diz: "Já conheço esta seu moço! Eu vi a mulher entrar dentro da caixa no circo, neguinho encher a caixa com ponta de facão e a mulher sair vivinha da silva de dentro dela! Você fez o mesmo comigo!"
O porteiro, educadamente, vendo que ele estava no elevador de serviços, convidou-o a entrar no outro que tinha acessorista.
1304! Pronto, chegamos! Matuto vira pro acessorista: "Obrigado moço, quanto é a passagem?"
Sai pelo corredor e vai batendo de porta em porta perguntando onde mora o Paulo. Uma porta se abre entre sorrisos e abraços. Maior do que sua simplicidade e ingenuidade é seu coração cheio de saudade.
Imitando Fernando Pessoa eu diria que tudo vale a pena quando a saudade não é pequena.
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