segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Os castelos que desmoronaram

Adolfo teve tudo na vida para a senda do sucesso. Desde criança, com meio quilo de barro fazia pequenas estátuas dos colegas. Na escola, compensava os três e os dois de suas notas, com suas estatuetas da Diretora, dos Professores, Coordenadores, Funcionários em geral, equilibrando para uma média que o adiantava ano após ano. Quando mudou para a metrópole, morava em um quiosque abandonado na beira da praia. Passava o dia inteiro fazendo castelos na areia que deixavam os turistas boquiabertos.
Mas seu caminho era o vigarismo. Um ismo a mais no mundo. Mas um ismo cujo destino não é outro do que a prisão, quando não, outra coisa pior.
Observou a cela em 3D, holisticamente palmo a palmo. Qualquer um afirmava por b mais a igual a bá, que seriam cinco anos contadinhos como os dedos de sua mão direita de larápio.
Adolfo fingiu-se enforcado na grade, com retalhos da colcha, bem protegido por uma coleira feita de madeira da pequena mesa, único objeto a mais, além da cama. Quando o carcereiro se aproximou, Adolfo apontou-lhe a arma e pediu-lhe o controle remoto da grade e da prisão.
Prendeu o guarda em sua cela. Algemou-o e cobriu-lhe a boca com a fronha do travesseiro, bem amarradinha na nuca.
Vestiu sua roupa e partiu silenciosamente, por mais uma vez. Só restou ao guarda deitar-se em sua cama e esperar que o presídio percebesse o acontecimento.
Mal deitou, a cama caiu. A cama só tinha três pés. O quarto pé era a arma que Adolfo, após engenhoso trabalho artístico, apontara-lhe minutos atrás. Adolfo teve tudo na vida para ter sucesso. Mas não era gênio. O artista tem inteligência bastante para decidir por qualquer caminho. Gênio é aquele artista que na encruzilhada da vida toma o caminho do bem. Um escultor de rua pode até construir seus maravilhosos castelos de areia na praia. Inclusive ganhar dinheiro e ficar famoso. Só não pode ter o mesmo comportamento do mar. Este cumpre o seu destino apagando todos os caracteres que ficam sobre a praia. O artista genial cuida com carinho do divino castelo da arte que ele carrega em sua alma.

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