sábado, 4 de janeiro de 2014

O TURCO QUE CUSPIA LABAREDAS

Quibe cru, cebola, alho, tempero sírio, junto com vinho tinto engaiolado trinta anos, foi o suficiente para botar Salim suando por todos os poros.
As vezes ao banheiro foram tantas que esvaziou a caixa d'água e gastou um semestre de papel higiênico numa noitada explosiva de fogos de orifício.
Na meia farmácia de seu quintal, surrupiou boldo, a jurubeba, o mentrusto, o chapéu de couro e todos os brotos do pé de goiaba, que perdeu em horas, pelas mãos heródicas do turco, a sua última geração.
Estava tão agitado, que quando seu cão veio dar-lhe o beijo matinal nas mãos, chutou-o: "Sai fora que hoje não tô dando confiança pra qualquer um! Não quero saber de pessoa nenhuma perto de mim, lambendo minha mão! Mulher vai na farmácia comprar um remédio que tose esta moléstia antes da raiz, porque ela já secou na cova!" A turca voltou correndo, sem bula e sem método, com apenas um envelope dourado nas mãos. Brilhava ao sol como um medalhão de ouro o envelope de alka seltzer. Naquele tempo, não era costume o uso de comprimidos efervescentes. O método de tomar comprimidos era o antigo: joga na boca goela adentro e bebe água por cima. Salim mandou logo três daqueles pra baixo da sua gula e abasteceu a moringa de sua pança com três copos d'água. Pronto: estava misturada a chama com a pólvora! Tudo começou a ferver, espumar e lançar nuvens no ar. O turco transformou-se em uma caldeira ambulante. Era espuma pelas narinas, orelhas e todos os botões. O turco e a turca na rua, abraçados e gritando, lembravam cenas vietnamitas. O povo corria e pedia socorro: " andem, corram minha gente, pelo amor da santíssima trindade, ajudem, tragam baldes d'água, que o Salim pegou fogo por dentro!"

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