
O caboclo estava apavorado. Os animais endoidaram em sua propriedade. O cachorro ficava o dia inteiro com um olhar lacrimoso olhando para a porca. Paixão à primeira vista. Romance de mais de um ano. A porca deitada num canto do chiqueiro observava-o enquanto dava de mamá aos seus porcorrinhos ou cachorquinhos.
Talvez alguém diga ser isto impossível. Com certeza estes não sabem do milagre do amor. O amor ultrapassa fronteiras. O amor suporta tudo. Tanto o babado do cachorro quanto o suor barrento da porca são deixados de lado diante da grandiosidade do amor.
Mas são porquinhos mesmos. Filhos de porca com porco, no bom sentido da palavra. Iniciado o amor porquesco, o cão assumiu a paternidade dos filhotinhos.
O relacionamento começou muito romântico num final de primavera por uma abertura maior entre duas tábuas do chiqueiro. Dali pra frente, a porca não quis mais saber do porco.
Deu-lhe uma dentada na orelha, marcando-o tipo ventilador quando quebra uma das pás.
Ele entrou em depressão. Foi fazendo um buraco debaixo do esteio do chiqueiro e fugiu. Encontraram-no morto, afogado numa lagoa metade água metade lama. Desta forma teve uma morte digna de um suíno. Assim também ele desafogou a sua tristeza, enchendo-se por dentro de lama mole.
Talvez se este cão fosse humano, se apaixonaria por aquelas madonas marca século dezessete de tantas andando por aí.
Explicar o amor? De quando em vez ele traz alguns ossos. Não interessam estes artefatos à porca. Servem para os porquinhos brincarem.
São animaizinhos, mas são crianças. Ficar preocupado ao extremo ajudaria àquele caboclo resolver seus problemas?
A mulher fugira num lote de cigano. O ganjão começou lendo-lhe a mão. Da mão para o braço restava apenas um palmo. Do braço para o ombro e destes para os seios, uma questão de dois palmos e meio. Assim de palmo em palmo o ladino conquistou a mulher esquecida pelo caboclo.
Aquele cão com aquela porca deram-lhe uma lição sem palavras e sem sermões.
Haveria alguém em algum lugar à sua espera. Deveria descobrir a ocasião. Foi quando apareceu o mascate. No interior eles são chamados de turcos. Um erro toponímico/geográfico.
Eles são sírios ou libaneses, portanto árabes. São hábeis negociantes. Ninguém os passa para trás em suas negociatas.
Ninguém os engana. Não dão nada a ninguém. São seguros ao extremo. O casal pediu pousada. O caboclo não negou. A casa com tantos cômodos sobrando cobriria o sono de vários mascates.
Inclusive de uma mulher com sono perdido. Uma turca, com todo o respeito, na opinião do matuto. O caboclo recuperara sua alegria.
A mulher ficou com o caboclo. Mas o turco não a deu. Vendeu-a caro. Levou todo o lucro do café vendido. O esperto ainda dizia: “Não posso deixar esta santa mulher por pouca coisa não! Você está com muita sorte da coisa não ficar pior! Afinal de contas você tomou a minha mulher!”.
Nunca ganhou tanto dinheiro na vida. Uma nova forma de ganhar grana, fazendo um intercâmbio entre mulheres de meretrício e caboclos de chifretrícios.
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