segunda-feira, 13 de maio de 2013

O caipira com cara de tapioca

Aberto Emborcado, lembro-me com precisão do seu apelido. Quando criança bati em todas as portas da vizinhança à procura de uma explicação para tão inusitado cognome. Todos desviavam o assunto, quando não murmuravam: “Quando você crescer, vai entender!”. Com certeza isto aumentava mais ainda a minha curiosidade. Por volta dos meus quatorze anos, alguém explicou com detalhes e requintes a origem daquele apelido. Aconteceu na cidade um casamento dos contos de fada. O vestido da noiva fora importado de Madrid. Seus pais eram de origem espanhola. O rabo do vestido media mais de vinte metros. Quando o padre naquele fatídico momento discursa: “Se alguém tiver algo contra esta moça que diga!”, uma senhora gritou: “Ama Zona!”. Para vocês terem uma ideia, naquela época os locais de “mulheres da vida”, eram chamados de zonas. A salvação foi seu dedo apontando para o fim do rabo do vestido da noiva. Estava carimbado em barro mole: “Amazona...!”. Os pais dos noivos foram ver e partiram em direção da porta da igreja. Em um canto estava em pé o famoso Aberto, com suas botinas enlameadas, de solado Amazonas. O “esse” final não saiu no rabo do vestido da noiva, porque ficou fora da beirada dele. Levaram o rapaz para fora e deram nele tanta chicotada e talada que ele ficou para o resto de seus dias, emborcado. Mas seu nome de batismo era Alberto Santos. No popular rolava Aberto Santo. Quando não fora vítima de tamanha surra em pura inocência, namorava a filha de Dona Cidinha. De longe ela avistava os dois chegando pelo caminho e bradava: “Lá vem Rosinha cu Aberto Santo na curva!”. Ninguém ria, nem achava graça nenhuma, pois ela estava completamente certa dentro da gramática local. Porém, após aquele vexame da igreja, a moça não quis mais saber dele. Nem para ganhar presentes. Rejeitava todos. Ele não fazia mais parte de sua enciclopedia caseira. A mãe sempre advertindo a menina: “Não quero ver você nunca abraçada cu Aberto Emborcado!”.

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