sexta-feira, 10 de maio de 2013

O ENCONTRO VERDADEIRO

Naquela sala cheia de livros, começava uma estória de amor dos contos de fada. Incrível, numa noite das mais comuns possíveis. Não havia nada de especial para justificar um fenômeno inexplicável entre duas pessoas. Em outra sala também. Não continha tantos livros, nem materiais de leitura diversos. Sobre a mesa uma coleção de retratos. Muitos objetos pequenos como decoração, entre eles alguns anjinhos sorridentes. Correu para o computador. Sentou-se e abriu sua caixa de emails. Nossa! Isto ela não esperava. Quantas palavras bonitas enviadas por um desconhecido. Quem seria? Um pretendente obscuro, escondido sob capa de um grande disfarce? Não se julgava a tal. Não se reconhecia tão bela. Nem possuía um corpo de sereia. Mas todas as mulheres adoram ser paparicadas e amadas. Elogios, quem não gosta de recebê-los? Resolveu encarar o jogo. Brincar de esconde-esconde , para ver até onde vai parar tudo isto. Escreveu uma resposta com dizeres também amorosos. Caprichou nas palavras. Buscou no fundo de seu baú de recordações os termos mais carinhosos possíveis. Emoldurou os detalhes. Agora esperaria ansiosamente por uma resposta. O cara chega tarde em casa. Antes do banho e da janta, verifica a caixa de emails. Um chamou-lhe totalmente a atenção: “Cuida de quem ama”. Gente o que é isto? Pensou silenciosamente. Foi ao lê-lo, naquele instante apreensivo, onde encontrou uma enorme surpresa. Há quanto tempo não recebera palavras tão belas. Sons penetrando em seu espírito e despertando-lhe momentos adormecidos no passado. Fonemas tocando-lhe em seus cabelos e abrindo-lhe de novo os olhos. Frases despertando como estradas iluminadas de ternura indo além do horizonte. Deu-se conta do erro. Não se lembrava mais do endereço eletrônico daquela mulher da fila do supermercado. Foi a pressa com certeza que he impediu de gravar o nome. A caixa passava as mercadorias muito rapidamente. Faltara um empacotador. Porém ele entendeu da forma como enviou para esta desconhecida. Porém, gostou do lance e decidiu continuar investindo. Respondeu à altura, após ter lido alguns poemas de Vinícius de Morais. Neste ínterim, ela procurara uma livraria e comprara um dos mais famosos livros de Pablo Neruda: “Veinte poemas de amor y uma canción desesperada”. “Se é guerra, vamos nos armar!”, pensou com uma decisão tomada de não sair deste esquema, pois estava gostando dele. Assim começaram a trocar correspondências como se fossem dois amantes insaciados. Chegou um momento em que ela decidiu conhecê-lo pessoalmente. Ele leu o email e cansado de tantas decepções amorosas, elaborou uma resposta bastante fantasiosa: “Espere mais, pois vivo em Paris. Só poderei viajar no final do ano!”. Fevereiro ensolarado e quente, merecia uma resposta mais audaciosa. Ela resolveu jogar fundo. O email estava bem incompleto, pois morar em Paris não significava nada. Ela simplesmente escreveu: “Aqui em Porto Alegre não está tão quente como no resto do Brasil”. Enviou-o, desligou a luz da sala, fechou sua janela, para mais uma noite na movimentada Ipanema. Continuaram naquela situação de vai e vem palavras de carinho. Não conseguiram avançar e nem tão pouco quiseram investir aquele relacionamento para outras redes sociais mais amplas. O anonimato corresponde fielmente ao antigo escurinho do cinema. Ergue-se à altura do cantinho escondido do muro onde romances inesquecíveis são traçados em silêncio. Ela resolve encontrá-lo de qualquer forma. Sonha com ele dias e noites em seguida. Parte para a internet. Vasculha tudo o que pode. Adentra-se por todos os seus caminhos possíveis. Chegou um momento em que o seu computador pifou. Deu um tranco e não funcionou mais. Conversou com o porteiro do prédio se conhecia algum técnico de informática. Este lhe deu um cartão. Ligou imediatamente. Não poderia ficar assim. Onde estaria seu namorado invisível? A vida tem suas surpresas. Nem sempre se mede um vinho pelo seu rótulo. Quando o cara chegou, ela sentiu um impacto dentro de si, como nunca antes sentira. Não era um indivíduo sem nome. Situara-se na outra ponta do sentimento amoroso. Agora estava cara a cara com uma situação verdadeira e palpável. Chamou-lhe atenção seu olhar profundo e doce. Desta vez sim, algo tangível tocara-lhe o coração. Ele chegou em casa pensativo. Nunca vira uma mulher como aquela! Tão bela, tão meiga e sensual. Uma flor singela perfumando o prédio ao lado do seu. Pegou o papelzinho com seu telefone. Não! Não podia esperar mais! Ele sabia que o sentimento era mútuo. Agora sim encontrara seu grande amor. Ela também, não tinha dúvida alguma sobre isto. Portanto, estão juntos há cinco anos. Vivem maravilhosamente bem. Entre eles as palavras variam entre Vinícius e Neruda. Encontraram-se finalmente. Nova vida exige novas atitudes. Cada um deletou seu disfarçado correio eletrônico. Jogaram para a lixeira seus segredos passados. Merece explicações?

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