quarta-feira, 8 de maio de 2013

UM MILAGRE NA VIDA DE UM HOMEM

Sempre foram dois amigos: Túlio e Alexandre. Estudaram juntos o primeiro grau e o ensino médio. Depois, cada um tomou seu rumo. Mas a grande aliança entre os dois não se despedaçou. Alexandre foi cuidar de vendas. Imóveis, este era seu grande negócio. Realmente ganhou muito dinheiro neste ramo. O mundo imobiliário vive em permanente expansão. Não é uma atividade fácil de ser exercida. Túlio seguiu estudando e formou-se na mais nobre e não reconhecida profissão deste planeta: professor. Totalmente diferente de seu velho amigo. Gostava de baladas e atravessava a noite bebendo e na farra. Afirmava ser muito feliz assim. A felicidade depende de cada ponto de vista. A saúde, esta não. Está completamente atrelada ao modo de vida. Bebida em excesso, noites sem dormir, comidas exageradas, engorduradas, stress, mágoas, aborrecimentos, juntando tudo isto numa panela de pressão, está pronta a sopa assassina. Alexandre não se envolvia na vida de seu amigo. Casou-se com uma mulher muito meiga e atenciosa. Morava muito bem em frente ao mar. Trabalhava muito, mas cumpria um horário sistemático. Nunca ultrapassava as dezoito horas. Se algum cliente quisesse ver uma apartamento em altas horas da noite sua desculpa já era uma venda programada: “Neste horário não tem condições do senhor vê-lo como um todo! Imóveis devem ser vistos durante o dia!” Curtia sua vida, mas de outra forma. Aproveitava os longos feriados para viajar pelas montanhas com sua companheira. Entre serras, bosques, ar puro, onde a natureza exalava sua alma enriquecida, descansava e voltava com mais vigor. Programada uma destas viagens, convidou seu amigo para ficar uma semana em seu apartamento em frente ao mar. Cobertura com trezentos e sessenta graus de visão. Túlio aceitou desde que ele deixasse também o seu cão. Alexandre consentiu. Ensinou-lhe como tratar do animal. Mostrou as rações, indicou-lhe um horário para passeios, etc. Arrumou as malas, deu um abraço no amigo, desejou-lhe felicidades e partiu para seu mundo maravilhoso de lazer. Após as dezoito horas de uma sexta-feira, Túlio colocou a coleira no Netuno, para uma caminhada. Em plena orla movimentada, ele procurou logo por um quiosque para beber. O cão começou a latir e negando se aproximar daquele ambiente. Não teve outra alternativa. Ficou com medo de machucar o pescoço do animal. Mais à frente uma agitada festa de praia chamou-lhe a atenção. O som em altura estridente e bebida por todo o canto. Mulheres semi nuas dançando. Homens embriagados com garrafas de cerveja e cocos com aguardente oferecendo a todos os curiosos. Mais uma vez o cão não consentiu aproximar-se daquele ambiente. O próprio barulho ensurdecedor provocava ansiedade no animal. Passeou entre castanheiras douradas pela lua. Chegou a um recanto cheio de canoas e pequenos barcos dançando sobre as águas. O cão mostrava um ar de alegria e satisfação. Algumas crianças brincavam na areia, alegres e felizes com seus pais. Durante aquelas férias ele não teve saída. Começou a gostar daqueles belos lugares e respirar a calma, a paz infinita dos logradouros naturais. Quando Alexandre voltou, percebeu imediatamente a mudança do amigo. Sua fisionomia mais serena e viva. Seu olhar transbordando alegria. Uma grande decisão tomara conta de sua vida. Do alto daquela cobertura, uma visão mais profunda e ampla penetrando a distância infinita, trouxera-lhe outro modo de pensar. À noite, o céu derramava sobre sua mente uma chuva de brilho das estrelas. Afastando-se da falsa alegria, apreendendo a verdadeira felicidade nas sobras dos recortes feitas pela sociedade, renovou-se completamente. Jogou fora todo o aprendizado do mundo cão e abraçou ternamente o ensinamento de um cão deste mundo.

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